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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

11
Set11

Tatuagem

jorge c.

Por cada corpo que cai, uma aflição. Todos os anos. A memória. Onde estavas eu estava ali e eu ali e eu a fazer e a acontecer o mundo inteiro a mexer-se e Nova Iorque a dormir como se alguém sonhasse alguma vez que o mundo a humanidade se violentasse assim. Eu estava lá longe a decorar critérios e normas e conteúdos de normas para quê? para que a memória não falhe a dogmática mesmo não estando lá. "A falsa intimidade da televisão", da dela, a preto e branco os corpos a cair a humanidade a cair e a memória todos os anos de uma falsa intimidade da televisão a preto e branco e o telefone de S. a tocar para dizer que o mundo está a cair, a angústia em directo e as lágrimas que caem todos os anos porque o mundo está a cair. E a memória sempre a memória a correr como algoritmos para que não te esqueças dos critérios das normas determináveis que determinam e que deixam de determinar e que precisam da nossa conformação até que nos conformamos e o mundo começa a cair aos poucos e reconstrói-se aos poucos ferido no orgulho e na inocência, a reagir ao medo aos barbudos ao diabo. Não é a bolsa que está a cair estúpido é o mundo e nós com ele a magoar os outros por causa do medo e a tolerância escrita em algoritmos vê lá não te enganes que não pode ser com todos só com alguns. Acordar outra vez em Nova Iorque todos os anos para que a memória te ajude a pensar em dias melhores.

 

13
Jun11

Antes de postar leia

jorge c.

Pessoa é um dos autores mais massacrados de sempre. Ou é vítima de citações oportunistas, ou é vítima dos maus fígados dos chatos, ou é usado e abusado por milhares de pessoas todos os dias para quem a poesia e o dia da mãe estão intrinsecamente ligados. Há até quem tenha orgulho em dizer "nunca li" como que afastando essa coisa das massas. Do desprezo absoluto ao poemazinho no blog, podemos ficar sempre estupefactos pela debilidade cultural que paira por aí.

 

10
Jun11

80

jorge c.

Miles Davis dizia que até a ler um jornal ele soava bem. Terá sempre tudo a ver com isso, com a forma como se soa. Descobriu a perfeição da harmonia e por dentro desse seu universo nasciam melodias milagrosas como um remédio para a alma cansada e acinzentada pelos tempos. Podia resumir-se a sua vida a: nasceu baiano para ser um génio do mundo. Mas a dimensão de joão, voz e violão é muito maior do que aquilo que podemos sequer tocar. Foi ele que me ensinou a gostar da Bossa Nova e a apaixonar-me lentamente por um Brasil que vive no meu imaginário como um lugar sagrado do corpo que se vai sendo. Devo-lhe parte do meu conforto e muito daquilo que gosto na música. Estas coisas não se pagam. Parabéns, João.

 

01
Abr11

A invenção da mentira*

jorge c.

Nunca achei piada ao 1 de Abril. Todos os anos a mesma conversa: o dia das mentiras para aqui e para ali, piadinhas estafadas com a política e a bola e por aí fora. Até o jornais fazem a sua partidinha marota. Tem imensa graça. Todos os anos. Um dia reservado para mentiras como se o mundo fosse um lugar onde elas não existissem e tivéssemos de tirar um dia diferente do habitual. 

Todos os dias inventamos desculpas para escapar a compromissos, inventamos memória, ficcionamos o nosso quotidiano e reforçamos a nossa personalidade com factos inexistentes. Mentir não é senão a única forma de alterarmos a nossa realidade como melhor nos convém. Isto não tem de ser necessariamente mau. Mentimos para não sermos inconvenientes ou cruéis, por exemplo. Mentimos para agradar aos outros ou até mesmo para não prejudicar ninguém, num esforço altruísta muitas vezes inconsciente.

A mentira é também a defesa da nossa intimidade, a nossa muralha para defender fragilidades, defeitos ou vícios que não queremos expostos a qualquer um. Fazemos dela uma forma de nos adaptarmos ao meio. No limite, estamos sempre a ir contra a nossa natureza e a inventar a mentira todos os dias expurgando-lhe o pecado e dourando-a com a necessidade.

Tornámos este dia numa efeméride aborrecida. A minha irmã faz anos hoje, por exemplo, e sempre que o digo a alguém, está-se mesmo a ver o seguimento da conversa. Anos e anos disto. É aborrecido.

Se o 1 de Abril continuasse a ser uma forma de gozar os franceses, confesso que me sentiria mais tentado a comemorá-lo. Assim, só me resta desprezá-lo.

 

*Título roubado ao filme de Ricky Gervais.

21
Mar11

Sol Poente

jorge c.

Quando o primeiro sol da Primavera se põe por detrás dos prédio que ocupam agora o minifúndio que separava a parte mais pobre da parte mais burguesa da vila que agora é cidade, a luz reflecte-se nas janelas e dá-se uma preguiça longa que nos faz descansar de uma tarde de discussões e insultos. O Zé Moreira diz sempre que aquilo parece um projector para o cenário. E a verdade é que ali, à boca de cena, inventaram-se histórias, fez-se música e poesia e teatro, discutiu-se o futuro da nação, escreveram-se compêndios de sebentas e até mesmo livros, pela pena do Prof. Baptista Machado, que viriam mais tarde a servir de apoio ao pensamento jurídico deste que vos escreve. Namorou-se muito e desfez-se muita coisa, também. Lugar de encontros e desencontro; de velhos, novos, ricos, pobres, mal afamados e aprumadinhos. O mesmo lugar onde há cerca de 40 anos uma mulher entrou sozinha pela primeira vez e isso foi motivo de surpresa, e onde agora três mulheres e apenas um homem assumem o volante com a destreza da longevidade. É lá que o café sabe melhor e os finos sabem a mel em tardes soalheiras como a de hoje, mesmo estando eu tão longe. É lá que a moedinha rola depois do almoço, na mesma mesa onde, mais tarde, a rapaziada veterana se junta para reviver o passado numa rede comprida: serviço, recepção, passe e ataque na saída. Ponto. AASM Académica. Quase que se ouviam os gritos a 700 metros, pela avenida onde passei os melhores anos da minha vida, de uma esquina à outra, do pinguinho à 1920. 20 anos de dedicação a um café que, como diz o Steiner, é a característica fundamental de uma Europa que se calhar já não existe; uma Europa de cafés e tertúlias prolongadas pelo calor da discussão. Sem merdas, que ali não há tempo para psicanálise.

 

 

 

à memória do Sr. Tiago e ao Sr. Gil

à D. Maria, à Manela, ao Gil e à Paula

aos amigos

03
Mar11

Serge

jorge c.

 

Passam hoje 20 anos da morte de Gainsbourg. O mundo perdeu há 20 anos um dos seus mais brilhantes libertários, um dos seus melhores compositores. Uma vénia que só posso fazer por lembrança de um dos meus preferidos, ainda vivo e por muitos e muitos anos, se Deus nosso Senhor quiser (eu próprio sou um subversor, não é verdade?).

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