jorge c.
Se um dos problemas do país é, neste momento, a crise de valores, temos de perceber de que valores estamos a falar. Não se pode apenas atirar para o ar um pacote de lugares comuns do moralismo. É preciso avaliar com atenção a função de cada um no meio.
O que entendemos, então, por função social das empresas? Para além da evidente relevância que as empresas têm no desenvolvimento social e do impacto dos seus produtos e serviços, estes sujeitos têm uma função interna para a estabilidade das comunidades. A sua organização é fundamental não só para responder ao mercado como também para dar qualidade de vida aos seus trabalhadores. Não são, por isso, positivas as cargas horárias impostas pelos empregadores, nomeadamente a jovens trabalhadores que estão dispostos a tal por se encontrarem no início de carreira e recearem o desemprego.
Pode parecer um assunto insignificante, mas não é. Repare-se que com uma carga horária pesada não é possível viver fora das empresas, despender tempo para as famílias, aproveitar as vilas e cidades, patrocinar actividades socio-culturais, não só criando públicos como participando; não é possível, enfim, viver, ter vida, mundo. E a falta de mundo é hoje um problema grave no seio das empresas, porque dele nasce a compreensão, a inteligência e a capacidade de evoluir. Mais: quanto maior é o volume de negócio da empresa mais esse cuidado deve ser tido em conta. É que, no fim de contas, o cansaço da dedicação sem retorno desgasta a imagem de qualquer negócio. No limite, a insatisfação gera desconforto e insegurança e isso pode ter efeitos perigosos - a saúde, por exemplo.
Este é, sobretudo, um problema de organização. Gastam-se rios de dinheiro em acções de formação, de motivação e coaching, mas é-se incapaz de olhar para dentro e perceber um grupo de pessoas.