do ódio ao desconhecido
Será com muita dificuldade que um programa de debate na televisão consiga esclarecer alguém para lá da mera heurística sobre qualquer matéria. O de ontem, sobre a tauromaquia, não foi excepção. Para além de ser um tema de guerrilha urbana, é um assunto complexo, que envolve factores culturais e identitários endógenos. A ancestralidade do culto tauromáquico não nos merece a leviandade de uma discussão pouco esclarecida e ainda menos esclarecedora.
Se é verdade que a tradição não legitima qualquer actividade por si só, não é menos verdade que o progresso não tem de ser o estrangulamento daquela, a tábua rasa da história dos povos. E se muitas vezes o conservadorismo ganha contornos reaccionários, pouco esclarecidos, também acontece o progressismo exceder-se em tiques pós-modernistas, sem referências, sem cultura, cínico e alimentado por uma ideia de urbanidade que ignora a vida no campo.
A diferença entre as duas vivências é abissal. A espiritualidade que advém de cada uma tem origem em fenómenos identitários dissonantes que apenas se reúnem num mesmo indivíduo cuja sensibilidade foi sendo preparada ao longo do seu próprio desenvolvimento. Não quer isto dizer que tal faça de alguém mais ou menos sensível, melhor ou pior. Quer antes significar que há, por vezes, mais disponibilidade para observar o mundo.
O grande problema da pós-modernidade é, precisamente, a urgência, a efemeridade, a falta de tempo para contemplar e reflectir, para compreender, discernir e, sobretudo, para sentir. Não conseguindo compreender, opta-se pela tentativa de destruir. É esse o génio da multidão, como diz o grande Bukowsky.