o ano da morte de josé saramago
Durante alguns anos, a blogosfera foi um passeio público de manifestações deslumbrantes e inovadoras. Revelou centenas de bons escribas e catapultou boa e má gente para a comunicação social. Se quisermos, a blogosfera refrescou o panorama cronista. Por outro lado, tornou-se num espaço insuportável, juntamente com outras redes sociais, e em particular nos últimos 5 anos, de disputa política. Os blogs colectivos de política, devido ao seu sectarismo e spin competitivo, mataram a personalidade inovadora que os bloggers conferiam a este espaço. A reflexão perdeu para a opinião, o pensamento perdeu para o impulso, o humor perdeu para a fanfarronice, o conhecimento perdeu para a informação privilegiada, a inteligência perdeu para o cliché rápido que a velocidade da rede acaba por disfarçar de originalidade, a literatura perdeu para o soundbite.
Talvez por isso, e por ter tentado seguir outro caminho, este blog tornou-se anacrónico, aborrecido e, de certo modo, pretensioso. Foi, durante estes anos, o meu espaço para exercícios de reflexão sem querer combater opiniões. Por breves instantes, isso foi conseguido e o seu autor foi crescendo um pouco mais. Porém, chegou agora altura de seguir outros registos. Encerra-se com alguma resignação sobre a forma triunfadora de pensar a política. É ressentimento, claro, e bem profundo, não o nego. Por vezes parece que estamos a ver fantasmas e, para não parecermos loucos, o melhor é sairmos como Adão e Eva do Paraíso Perdido, sabendo que loucos são os outros dois que ficaram no mais vil jogo maniqueísta.
Até à vista.