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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

07
Jul11

Referências

jorge c.

Nasci numa terra maioritariamente comunista. Cresci numa pequena vila no concelho de Matosinhos, socialista, que mais tarde se tornaria cidade. Durante a minha adolescência, a tendência política da minha geração (e não só) era a esquerda. Ser de direita era difícil. Nessa fase queremos e procuramos sempre uma irreverência que provoque os mais velhos e juntamo-nos em bando porque confundimos ideias e convicções com descontentamento pessoal e com a legítima inquietação da idade. Ao contrário da opção dominante, educado num universo social-democrata, mesmo na estrutura e conduta familiar, nasci na direita e aí me cultivei politicamente. Estive muitas vezes sozinho. Quase sempre. Mais tarde encontro dois amigos, o David e o Ricardo, com quem partilharia a mesma opção. Mas, nos momentos de solidão política questionei muito as minhas convicções. Não queria que fossem aquilo que combatia dentro da minha geração: uma irreverência fútil e uma confusão de ideais e um afastamento desmesurado do interesse nacional. Foi nessa altura que descobri algumas das figuras que passariam a representar, para mim, o ser-se de direita. Eram figuras de uma enorme independência e com manifesta vontade de servir a causa pública; exemplos de cidadania e de solidariedade e, sobretudo, pessoas intelectualmente honestas que discutiam fora do lugar comum e do pensamento único. Uma delas, Adriano Moreira, havia sido ministro de Salazar. A outra, Jaime Nogueira Pinto, um seu fiel defensor. A terceira pessoa era uma mulher, uma mulher forte e segura das suas convicções. A sua dedicação e coragem fascinavam-me. Ensinou-me a não ter medo, essa senhora extraordinária. Aprendi com estas três pessoas, sem nunca me ter cruzado com elas, a não ter vergonha ou medo de assumir aquilo em que acreditava, mesmo que isso não fosse respeitado. Agora, eu sabia que também tinha lugar dentro de uma democracia monopolizada pelos ideais de esquerda e que era preciso combater todos os dias, num jogo sempre limpo, leal e honesto. Penso muitas vezes nestas três pessoas que serão sempre a minha maior referência na política portuguesa. Morreu Maria José Nogueira Pinto e eu estou muito triste.

08
Jun10

A direita da causa perdida

jorge c.

Quando falo de diabolização da direita não estou a afirmar que esse é o mal do mundo. Digo apenas que é uma forma incorrecta e desonesta de discutir política.

Se essa forma é um tique da esquerda, também a direita tem tiques maus e que a fazem perder terreno no combate político. Um desses tiques é o moralismo apócrifo e um certo excesso de emotivismo político. Viu-se bem isto na discussão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, onde não houve uma posição jurídico-institucional forte por parte da direita que, em vez disso, andou a pregar aos peixes sobre a anormalidade de uma relação homossexual e sobre a família tradicional. A direita perde a concentração nestes momentos e deixa-se levar por um conjunto de preconceitos que não são sequer relevantes na discussão. Se é uma relação jurídica que está em causa é nesse sentido que a questão deve ser discutida. Se é uma instituição que está em causa é nesse sentido que deve ser discutida. O plano subjectivo provoca a guerra identitária e isso sai fora do âmbito da direita.

Em rigor, a direita é institucionalista e comunitária. O seu espaço de discussão política não se pode confundir com as posições de pequenos grupos dentro desse bolo ideológico. O que esses grupos, por norma elitistas, provocam é a massificação de um pensamento político acéfalo baseado no ódio pelo próximo e na ignorância.

A tendência para a futilidade ideológica é, portanto, muito alta. Tal como aconteceu na esquerda dos anos 60, a direita acha agora que também é esteta e passou a desfilar com vaidade um catolicismo falso, fala no liberalismo com uma sofisticação serôdia e concentra as suas forças no combate à esquerda caviar em nome de um suposto conservadorismo. Ora, caviar de um lado e lata de atum disfarçada do outro, pelo menos comidinha não há-de faltar à rapaziada.

Falta-lhe, assim, o estudo e a concentração necessárias para uma conquista política relevante, baseada no espírito de preservação da comunidade, na defesa das instituições, no rigor jurídico, na aceitação e diversificação das relações sociais e jurídicas, na sustentação ambiental e cultural. Uma maior consciência da importância da comunidade e uma maior dedicação a esta fortalece a direita. O identitarismo estrangula-a.

Com efeito, a direita não tem de ser católica. Ela tem de defender o catolicismo na sua perspectiva cultural e institucional. Não tem de lhe obedecer aos cânones, mas sim suportar os costumes inseridos na cultura ao longo dos séculos. E quem fala no catolicismo fala também noutras questões como as forças policiais, o regime político e a natureza do Estado, em particular do seu povo.

O conservadorismo tem que ver com a sustentação actual e não a de há 40 ou 50 anos.

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