jorge c.
Para defender o progresso, não se sabendo ao certo o que isso significa, a esquerda utiliza uma táctica política de rua muito eficaz: a diabolização. Ao longo dos anos essa táctica vai-se tornando cada vez mais perfeita e enraizada nessa particular mentalidade do "ser de esquerda". É uma espécie de teoria da conspiração típica das extremas, mas mais sofisticada. Um jornalista, um colunista, um artista, um político, ao assumirem-se como de direita, em Portugal, poderão estar a pôr o seu bom nome em causa. Ser de direita corresponderá automaticamente a ser nojento, um pulha, um canalha, etc, etc. A não ser que se seja a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da interrupção voluntária da gravidez, da eutanásia, da adopção por casais homossexuais e utilizador frequente de palavrões (eu sou, estou safo). Ou seja, para a esquerda moderna, próxima do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda, ou entre os dois, uma boa pessoa de direita é uma pessoa de esquerda.
As principais vítimas desta maldição nos últimos tempos foram Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Ninguém lhes tirou o rótulo de conservadores monstruosos que queriam fechar o país dentro da Santa Madre Igreja e queimar o resto das pessoas. Disseram-se coisas inenarráveis, truncaram-se afirmações, insultou-se, criaram-se boatos de bastidores e especulou-se (tipo agências de rating) sobre hipotéticas más intenções. Enfim, diabolizou-se de tal forma a imagem destas pessoas que, a certa altura, até parecia real. Não acredito que alguém num estado de lucidez razoável fique convencido disso. A verdade é que não parece haver um estado de lucidez razoável nestas coisas. Se por um lado temos a geração castrada de Abril sempre à procura da igualdade absoluta entre homens e minhocas, reivindicadora dos direitos das sereias, por outro temos a esquerda mais moderna que pretende proceder a uma alteração estratégica das elites e a quem convém mudar o sentido da opinião pública (em abstracto).
Acontece que essa diabolização não tem correspondência na realidade. A direita portuguesa é uma direita social. Não tem qualquer comparação com movimentos políticos extremados. Mesmo a direita católica é bastante moderada, tendo ainda em conta que nos últimos 30 anos aguentou com "os beatos", a "padralhada", entre muitos outros epítetos simpáticos que, como bons cristãos, devem aceitar sem piar. Há uma espécie de Verdade à esquerda, um dogma anti-religioso e politicamente preconceituoso.
O que não se compreende, e chega mesmo a ser paradoxal, é como é que a esquerda defensora de Abril não aceita uma ideologia política contrária e como é que à falta de melhor confrontação ideológica recorre à banalidade da diabolização, ao insulto e aos atentados fictícios de carácter. Começa a ser preocupante e deixa de ser apenas patético.