Não te deixarei morrer, meu querido blog
Não ter tempo é uma coisa muito relativa. Não ter disponibilidade mental é outra coisa. E há alturas em que não temos mesmo essa disponibilidade; em que, simplesmente, não nos conseguimos concentrar em algo. Não me apetece. A vítima é este blog. Mas não me atrevo a deixá-lo, não vá a dona da internet deixar de falar comigo, já que andaram a fazer um poiso tão catita para agora o malandro dar de frosques, como o puto que vai a casa da avó lanchar, aborrece-se e pira-se. Aqui, sim, é uma questão de tempo. Até porque o panorama é chato. Discute-se o enxofre dos dias e o fim do mundo em cuecas (sempre gostei da expressão e abuso as vezes que forem precisas). Já lá vai o tempo - no meu tempo é que era - em que se podia ser maçador e, ainda assim, ter atenção, escrever micro-ensaios sobre questões absurdas e caricatas, e falar dessa estaca de madeira para os mais sofisticados que é o amor entre as espécies. Mas, perder um blog não é deixá-lo assim ao abandono, como tem acontecido com este; não é perder leitores ou deixar o tempo correr pelo html como uma bola de cotão. Perder um blog é ficar sem ele de um momento para o outro, abruptamente, sem despedidas ou backups. Deixámos lá a memória. Enquanto o guardamos religiosamente, a memória fica salva, acompanhando todo e qualquer tempo com significados bem definidos. Guardo um velho casaco no armário (como se o pudesse vestir) e com ele - e com ela - uma memória que é minha, só minha. É como um post, ou este poema de Jonathan Galassi. Perder um blog é como perder um filho virtual que criámos, alimentámos e vimos crescer. E com ele fomos crescendo. Um drama. Guardo, agora, este blog como um segundo ou terceiro filho para o qual não tenho, de momento, disponibilidade. Mas, desta vez, prometo-te: não te deixarei morrer, meu querido blog.