As Conferências do Estoril: final apoteótico
Gostava de vos fazer um pequeno balanço destes três dias de conferências sem ser demasiado exaustivo, não só porque a minha presença no evento era a de mero observador, mas também porque o importante nesta série de palestras e debates é retirar uma ideia geral daquela que pode ser a tendência global da linguagem política nos próximos anos, seja no contexto local, seja na perspectiva internacional.
Não poderei negar que assistimos à celebração do senso comum e do politicamente correcto. Há uma clara reverência à normativização da tendência social dos tempos, dos lugares comuns que vamos aprendendo na escola e que, atendendo à realidade nua e crua, não passam muitas vezes de um lirismo populista (expressão escolhida a dedo para espetar na ferida).
Do ambiente, à resolução de conflitos locais e internacionais, passando pela estratégia e liderança global e por modelos de desenvoolvimento sustentáveis, os conferencistas foram jogando as cartas do bom senso, não deixando em momento algum de limitar as suas intenções pela falta de vontade política. É este, também, outro cliché - a falta de vontade política - que é como quem diz "falta de vontade política is the new black".
Acredito que este spin funcionará e servirá a estratégia política dos principais actores mundiais para criar linhas de consenso, o que não é necessariamente bom. Pensar global e agir localmente não é algo que se ficar no papel ninguém notará. Não pensar global, não agindo ao mesmo tempo no nosso domínio, é frustrar as expectativas das comunidades e de cada cidadão. Isto parece-me bastante claro na forma como nos relacionamos hoje com o nosso maior instrumento de informação e divulgação: a internet.
Por isso, compreender a actual conjuntura cultural, social e económica é um passo importante, mas não o único para evoluir para uma nova narrativa civilizacional. É importante escrutinar cada um desses lugares comuns que os nossos actores políticos vão escolhendo para acompanhar o seu follow spot. Não restem dúvidas que é este o momento certo para uma melhor cidadania.
Poderei concluir com alguma facilidade que as Conferências do Estoril, bem espremidas, são paradigmáticas na forma como se deve conjugar algum lirismo social com o pragmatismo da real politik.
Para terminar, não posso deixar de agradecer o convite que me foi feito para assistir a esta excelente iniciativa da Câmara de Cascais. Um agradecimento muito especial à incansável Alda Telles e aos meus companheiros de jornada Francisco Silva e Alexandre Guerra. E já agora deixo-vos este link para uma pequena peça feita sobre a nossa participação enquanto bloggers.