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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

24
Abr12

Os Donos de Portugal

jorge c.

Na última entrevista que deu à RTP, a certa altura, Melo Antunes fala do Dr. Soares e relativiza o seu papel na Revolução. Melo Antunes foi o único homem sensato que alguma vez vi a falar do 25 de Abril e, fundamentalmente, da Democracia a partir do 25 de Abril. Já o Dr. Soares gostou sempre de vir de cabeça de fora no comboio, como as crianças nos carros, a chamar à atenção. A mitomania do Dr. Soares faz dele uma personagem caricata. Não quero aqui retirar-lhe as virtudes políticas que serão, certamente, mais do que muitas. Porém, ao longo da sua vida, o Dr. Soares foi criando realidades paralelas. Os Soaristas, em nome do ideal social-democrata, nunca o interromperam. Nunca se interrompe o arauto, pois que é ele que leva a chama. Mesmo que ele esteja a dizer um enorme disparate. O disparate maior foi sempre o sentimento de detenção da Revolução. Afinal, a revolução é do Povo ou é da Esquerda?

Desta vez, o Dr. Soares achou que deveria ficar solidário com a Associação 25 de Abril. Nada contra. Mas, fará sentido? Segundo podemos perceber das palavras de Vasco Lourenço, o problema dos militares de Abril é a Troika e aquilo que para eles é um ataque à soberania nacional. Não vou agora tecer comentários sobre como é extraordinário ver pessoas que comungaram da Internacional Socialista defenderem a Soberania Nacional. Adiante.

Ora, sendo uma parte significativa da não participação da Associação 25 de Abril nas comemorações oficiais do 25 de Abril a dinâmica político-económica em que Portugal está envolvido, não me parece que nem o PS e muito menos o Dr. Soares estejam fora desta crítica. Senão, vejam bem, com olhos de ver, este link que vos deixo. É de uma pessoa ficar espantada com a tamanha lata. Ou não.

É que o grande pretexto para este discurso é a posse da revolução. Parece que se torna insuportável que a democracia aceite um governo que não segue as políticas que nós queremos. Mesmo tendo agido este legitimamente e não havendo, até à data, sinais de uma ruptura com o cânone democrático instituído pela Constituição da República Portuguesa. É que a Associação 25 de Abril não representa nem a CRP, nem o Povo português mas, antes, representa-se a si própria.

A decisão de Mário Soares torna-se, assim, incompreensível. Até porque o próprio já esteve numa situação semelhante, noutras circunstâncias, e ficou, igualmente, refém do apoio externo. Soares mostra que, acima de tudo, não tem qualquer respeito pela democracia, que não a compreende e que não percebe que esta não tem uma ideologia fixa. Ficará para sempre ligado a uma corrente de detentores da democracia. Esses sim, os donos de Portugal.

03
Abr12

"we need a little controversy, 'cause it feels so empty without me"

jorge c.

Não sei o que terá passado pela cabeça criativa do departamento de marketing e comunicação da Música no Coração para ter esta ideia peregrina. "Ah, afinal era só uma brincadeira do 1 de Abril".

Uma empresa não pode apresentar um produto, sabendo que não o tem, e vir depois dizer que foi uma brincadeira. As empresas não brincam ao 1 de Abril. Até no mundo das notícias, a brincadeira do Dia das Mentiras pode sair cara. Numa empresa nem sequer deve ser uma opção. No entanto, houve ali um génio qualquer que achou que ninguém levava a mal. Acontece que, quando um produto está a venda, corre-se o risco que seja comprado. O convite a contratar e a aceitação reúnem-se no mesmo momento, pelo que se torna imperativo que toda a informação sobre o produto seja objectiva e - veja-se lá bem - verdadeira.

Todo este episódio é de uma monumental imbecilidade. Uma estupidez tão grande, tão grande, que merece um castigo severo. O bom da lei é que ela é, grande parte das vezes, anti-estúpidos. E, portanto, seria aconselhável que aqueles que foram defraudados levassem este caso até às últimas instâncias não deixando a sua pretensão pela simples devolução do dinheiro. As empresas têm de aprender a respeitar os seus stakeholders. Isto é válido para a própria TMN que, a esta hora, já devia ter tomado uma posição, se já não tomou.

Mas, o maravilhoso em tudo isto é o artista escolhido. Eminem é um artista que ataca a falta de consciência crítica. A falta de cultura que advém desta macacada é tal, que os seus autores acabaram por praticar, inconscientemente, o comportamento que o próprio Eminem condena, muitas vezes. Oh, a suprema ironia!

Quem se deve estar a rir disto tudo, agora, é Álvaro Covões. Mas, o que agora sabia bem, era ouvir isto:

 

 

 

Adenda: Uma forma original e não fraudulenta de fazer as coisas, no Dinheiro Vivo.

12
Jun11

not searching for the real thing

jorge c.

Por aqui acontece imenso quando não se gosta de uma figura política. Escrutina-se tudo, inclusive vírgulas e metáforas. Mas nos EUA é pior. Parece ser um vício das democracias, esta busca fundamentalista por escândalos. Será que podemos chamar a isto a procura da verdade?

Quando não se encontram escândalos inventam-se. Já ninguém liga a títulos como "jornalistas ainda não encontraram...". Mas porquê, tinham esperança em encontrar? A descredibilização das pessoas é uma coisa assim tão positiva para a estabilidade das sociedades? As convicções políticas das pessoas estão directamente relacionadas com a sua falta de carácter?

E já nem ligo ao facto de os jornalistas estarem publicamente a violar a correspondência de outrém. Who cares, não é verdade? Haverá sempre alguém insuspeito com uma explicação razoável. Não vale a pena discutir. O que vale a pena é, pelo menos, tentar chamar à atenção para isto: está tudo doido, histérico e assim não vamos lá.

14
Mai11

Catrogadas

jorge c.

"A direita é sempre a direita dos interesses e da mentira". Quem terá dito isto: Jerónimo de Sousa? Carvalho da Silva? Luís Fazenda? Francisco Louçã? O puto Gualter dos eufémios? Não. Quem fez esta generalização gravíssima para o debate democrático foi Eduardo Ferro Rodrigues.

Para mim estas questões são sempre de princípio. E por princípio este tipo de generalizações são uma cretinice. Gostava de ver mais pessoas desagradadas com estas declarações infelizes. Ah, mas lembrei-me, estamos em campanha.

08
Abr11

Menos que zero

jorge c.

Não se compreende a importância dada a um momento que, para além de tudo, foi gaffe da estação de televisão que o transmitiu e não da pessoa em concreto. Parece que Sócrates é o único a ensaiar a forma como olha para a câmara. Podemos sempre esperar que, sem ensaio, Sócrates fique a olhar para o lado e então fazemos regabofe disso. A infantilidade não tem limites e não tem qualquer graça, principalmente quando promovida por meios de comunicação a quem atribuímos credibilidade. O interesse noticioso disto é menos que zero.

09
Mar11

O menino Nelinho

jorge c.

Ia começar este post tentando explicar a Pedro Arroja que a civilização (a nossa, pelo menos) conquistou a harmonia social não por interesse pragmático mas por necessidade de paz social numa lógica de justiça, sendo que o objectivo de qualquer narrativa político-ideológica é a paz social. A nossa sociedade evoluiu muito ao ponto de a lei do mais forte fisicamente já ser quase insignificante. É que se não fosse Pedro Arroja e o seu metro e cinquenta há muito que tinham levado duas estaladas. Acontece que há regras. E essas regras servem para todos, até para os mais baixinhos. Porque quem já viu Pedro Arroja sabe que falar em virilidade com ele é até, de certa forma, crueldade.

Mas, a certa altura, deparei-me com a referência à relação lésbica. É todo um programa. Vale a pena ler. Esta frase, por exemplo: "As zangas ocorrem frequentemente por motivos de dinheiro, duas mulheres juntas nunca se conseguem governar". Por momentos pensei: se calhar o Prof. Arroja é lésbica e teve uma má experiência a lamber carpetes. Às vezes aparece com cada Bin Laden... Enfim. Mas depois, reflecti mais um bocadinho e disse para comigo mesmo: ora, mesmo que o Prof. Arroja tivesse tido uma relação lésbica ele não poderia generalizar porque se calhar teve azar e não descobriu o amor verdadeiro e harmonioso.

Foi aqui que cheguei a uma conclusão. Lendo isto só se pode concluir que Pedro Arroja é uma pessoa sem harmonia interior. O facto de ser praticamente anão e ser pouco notável na rua faz dele mais pequeno que a sua própria mente e torna-o amargurado com a existência dos outros. É um homem triste, o puto que tem a bola mas não tem os amigos nem a alegria da rua. Quando comecei a escrever este post estava a rir. Agora tenho pena. Coitadinho.

04
Mar11

De ouvido

jorge c.

Esta semana fui ver Somewhere, da menina Coppola. A meio da película aparece um cidadão a cantar Teddy Bear - um tema celebrizado pelo Rei. E a tradução é algo absolutamente surreal. Era algo como "eu não quero ficar cansado porque não sei quê, eu não quero ser mentiroso porque isso não faz o teu tipo". Bem, olhando para a letra original percebe-se qual foi o problema - falta de profissionalismo.

03
Mar11

Qualidade e rigor, desta vez na Sic

jorge c.

Acabo de ouvir no Jornal da Tarde Primeiro Jornal da Sic, o mesmo onde ontem Bento Rodrigues garantia que a descida da despesa tinha que ver com a subida de impostos, que o treinador do Sporting, José Couceiro, tinha uma "tarefa herculana". Parei, saboreei o vento que vinha da minha janela virada a sul e senti a brisa do mar tralara rarara. Depois de um ligeiro momento de descontracção, relaxamento dos músculos do pescoço e das mãos, fiz-me a um dicionário online. Vejam bem, já há dicionários online! É a loucura do progresso! Como não tinha nada para fazer pensei, ora deixa lá ver o que é uma tarefa herculana. Sendo que sou um génio, percebi logo que herculana seria um adjectivo e meti as mãos à obra. Olha... não aparece nada. A palavra não existe no dicionário online. Deixa lá ver nos antigos. Isto não há nada como papel que estas coisas da modernidade são muito falíveis. E... nada! Que estranho! Se calhar não teve tempo de procurar, o cavalheiro cujo nome me escapou. Ou se calhar - e eu não quero aqui lançar falsos testemunhos - os chefes destes cavalheiros andam a dormir.

 

 

Adenda: Portanto, a palavra enquanto adjectivo existe, mas é estúpido porque o ignorante deveria usar as mais comuns: hercúlea ou herculeana. Mantenho a minha posição e não desarmo. Fogo!

 

Adenda 2: Agora mais a sério, na Caixa de comentários deste post Bento Rodrigues responde à crítica que lhe enderecei.

01
Mar11

Inconsequências

jorge c.

Ontem ouvi uma advogada muito indignada porque a sua classe não tinha sido abrangida pela obrigação de remuneração dos estágios profissionais. Ora, contra os meus próprios interesses devo dizer: mas que grande disparate. Como a Sra. Dra. deverá saber, as sociedades de advogados não se podem constituir como sociedades comerciais porque não têm uma finalidade comercial. Como é que seria então possível dar um estágio a alguém sem um lucro que o permitisse. Uma parte significativa dos advogados recusar-se-ia a dar estágios e uma outra parte ficaria sem estágio. Logo, não poderia exercer.

Quando se dizem disparates é bom que se pense na consequência das nossas propostas. Por exemplo: acabar com os recibos verdes. Com o nossos sistema laboral isto significaria mais desemprego porque em muitas empresas não existem postos de trabalho efectivos para esses contratos reais. O problema dos recibos verdes é outro: haver trabalhadores com contratos de trabalho evidentes que continuam a passar recibos verdes. O recibo verde ajuda até, de certa forma, à possibilidade de empregos que dificilmente existiriam com uma legislação rígida em alguns pontos como a que temos. Tal como o problema dos estágios de advocacia é haver gente que se mata a trabalhar para sociedades de advogados que têm poder financeiro suficiente para remunerar os seus estagiários. Ou seja, é um problema que está no domínio ético.

Portanto, conclui-se que obrigar à remuneração é uma solução contraproducente que teria efeitos muito mais devastadores para quem já tem dificuldades. Convinha pensar nestas coisas antes de protestar para não se fazer má figura e descredibilizar o próprio protesto.

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