Convém avisar os ingleses
Tristezas à parte, convém pensar um pouco sobre a relevância desta Cimeira da Nato em Portugal.
As questões com que a Organização se debate no momento andam à volta de um grande tema - a Defesa e a Soberania dos Estados. É claro que este é o propósito da Nato. Mas, será que nos tempos que correm o significado destes dois princípios é o mesmo do século que passou? É nesta interrogação que reside para mim o núcleo de discussão da Cimeira de Lisboa. Senão, vejamos os dois tópicos de maior mediatismo ao longo destes dois dias: o Afeganistão e a Rússia.
Se por um lado temos o proto-debate sobre o "inimigo", e que no caso do Afeganistão é evidentemente o terrorismo, por outro vemos a aproximação de duas realidades políticas diferentes e que carregam consigo a responsabilidade de mudar o paradigma do pensamento moderno no que diz respeito ao tratamento da forma política que cada Estado adopta. A presença da Rússia no universo da Nato representa essa responsabilidade.
Este é o tempo de encerrar o capítulo da democratização do mundo e começar a pensar de modo mais amplo. A nenhum Estado se deve impor uma forma política. O que é necessário é não permitir ameaças externas à sua soberania. Defender e não impor. E neste sentido não é só a cedência da Rússia às exigências da Organização que tem de estar em cima da mesa. É também o modo como o eixo UE/EUA compreende e age perante realidades culturais e sociais (políticas, portanto) diferentes das suas.
Quer me parecer que este é o grande desafio para uma maior harmonização do mundo, para uma paz social global e não globalizadora. É o tempo de um novo pensamento não-imperialista, em virtude de novos imperialismos. Convém avisar os ingleses.