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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

26
Jan11

Hail to the Chief

jorge c.

 

Quando Obama entrou na sala do Congresso, ontem, percebeu-se mais uma vez que na cabeça daquele povo há algo muito mais importante que uma mera disputa partidária. Está-lhes nos genes o debate pelo interesse nacional. Tem sido assim ao longo dos últimos dois séculos e pouco. O discurso do State os the Union tem esta dimensão política universal e estratégica que faz sentir aos americanos que há um Commander in Chief. Ontem não foi excepção.

Bem sei que tenho andado um pouco obcecado com a radicalização do debate político em Portugal e que tenho insistido muito nas críticas ao sectarismo por considerar que este não beneficia o interesse nacional. Pois foi exactamente por aí que Obama começou, como seria de esperar, depois do tom excessivo a que chegou o debate americano e principalmente perante o que se passou em Tucson há poucas semanas. Uma cadeira vazia no Congresso foi suficiente para que todos pudessem perceber a gravidade do seu comportamento, dos seus discursos, das suas guerras partidárias.

É claro que a comparação é inevitável e olhamos para um Presidente que apela à colaboração, ao trabalho em conjunto por um desígnio, ainda que com discussão (muita) sobre cada pormenor do que está em causa. Vemos um Presidente a galvanizar em vez de dividir e pensamos nos nossos líderes e nas suas palavras que promovem antes o entrincheiramento.

Mas, que se engane quem acreditar que é possível continuar a fazer comparações com o resto do discurso. A realidade económica e monetária dos EUA é muito diferente da nossa. E quando digo nossa, digo da Europa, já, e não tanto da portuguesa, porque dessa então nem se fala. Obama mostrou como se faz política falando na necessidade de alimentar o desenvolvimento do país na tecnologia, na mobilidade e na comunicação. Falou no compromisso que o Estado deve assumir para ajudar os seus empresários a prosperarem para que todos criem riqueza e emprego. Falou na escassez de recursos, mas também se referiu às prioridades nos cortes da despesa e que isso não pode passar por aquilo que uma sociedade tem de mais básico: a educação, a saúde. E a política faz-se deste jogo de cedências, de piscar de olhos à direita por saber que agora o Congresso é maioritariamente republicano.

E depois a diplomacia. Sempre a política externa dos EUA presente no discurso do Presidente porque isso também define a sua estratégia económica e a paz social que o país assume como prioridade em tempos de crise, revoluções, catástrofes e terrorismo.

Porém, não me compete a mim fazer uma análise profunda do discurso de Obama. Interessa-me essencialmente fazer perceber que o que se viu ontem foi um discurso de liderança, de rumo, de estratégia e de cooperação. Um discurso inspirador que olha para o país como um todo, onde não há americanos de primeira nem de segunda, onde a mesquinhice tem de ficar muitas vezes de lado.

Não temos de copiar nada. Mas podemos aproveitar esta capacidade de nos inspirarmos a nós próprios, de nos motivarmos e responsabilizarmos pelo nosso papel enquanto cidadãos. Talvez assim, um dia, tenhamos direito a uma boa liderança.

18
Jun10

Da Justiça na América

jorge c.

Gostar dos Estados Unidos é também compreender as suas singularidades, a sua natureza política e as suas práticas menos consensuais na Europa. Eu gosto e muito.

No entanto, não devemos tomar como dogmáticas determinadas realidades. Se há algo que não faz sentido no espectro civilizacional onde os Estados Unidos se encontram, devemos contribuir para esse debate. A pena de morte será uma dessas realidades. É, assim, de todo lamentável que nos tempos que correm ainda se assistam a retrocessos penais destes. Não estamos aqui a falar num campo humanitário que pode ser perfeitamente discutível em virtude da cultura do meio. E digo discutível por não considerar sensato encerrar o assunto à partida com verdades insofismáveis.

Do que se trata aqui, portanto, é da matéria moral que envolve o pensamento penal da época. E parece-me um pouco desactualizado insistir na pena de morte, principalmente nestas condições medievais. O direito penal tem mudado muito e a sua evolução gradual começa a ficar a anos-luz desta realidade americana. Num país tão devoto chega mesmo a ser paradoxal uma tomada de posição destas em relação à vida do outro.

É claro que se compreende o factor coercivo que esta sentença ainda carrega. Mas não podemos parar por aí. Há um campo de interesses jurídicos maior que tem de ser relevado na medida em que não falamos de uma paga mas sim de uma pena.

 

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