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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

02
Set13

Carta aberta ao Presidente do PPD/PSD

jorge c.

Caro Pedro Passos Coelho,

 

Quando em 1997 me filiei no Partido Social Democrata, assumi, com a humildade que a tenra idade me permitia, que era um partido que me tinha a mim e não o contrário. É um acto de consciência fundamental para um militante compreender que, para participar politicamente num partido democrático, os princípios e estatutos que o regem são fruto de uma realidade política colectiva, de serviço público, e não um mero instrumento de chegada ao poder para fabricar uma outra realidade.

Para chegar a esta conclusão e aceitar subscrever os estatutos do PSD tive, quase ao mesmo tempo, de compreender o sistema e o regime político do meu país. Era essencial para a minha consciência cívica. E mesmo com as alterações que são comuns e legítimas, há uma coisa que não posso esquecer e que aqui partilho consigo:

 

"(...)

Capítulo I - Princípios Fundamentais

 

Artigo 1º (Finalidades)

 

1. O Partido Social Democrata (PPD/PSD) tem por finalidade a promoção e defesa, de acordo com o Programa do Partido, da democracia política, social, económica e cultural, inspirada nos valores do Estado de Direito e nos princípios e na experiência da SocialDemocracia, conducentes à libertação integral do homem.

2. O Partido Social Democrata concorrerá, em liberdade e igualdade com os demais partidos democráticos, dentro do pluralismo ideológico e da observância da Constituição, para a formação e a expressão da vontade política do Povo Português.

3. O Partido prossegue os seus fins com rigorosa e inteira observância das regras democráticas de ação política, repudiando quaisquer processos clandestinos ou violentos de conquista ou conservação do poder.

(...)"

 

Certamente que reconhece os estatutos do nossos partido. E é precisamente com eles que lhe quero transmitir a minha absoluta repulsa por vários militantes do PPD/PSD terem aplaudido as suas inenarráveis palavras, proferidas durante Universidade de Verão.

A sua opinião sobre a Constituição da República Portuguesa é-me indiferente. Não lhe reconheço, a título pessoal, qualquer grau de conhecimento sobre qualquer assunto civilizacionalmente relevante. Porém, enquanto presidente do partido do qual sou militante (já para não falar enquanto Primeiro-ministro de um Governo Constitucional) exijo-lhe, a si e a todos os que com modos acéfalos o aplaudiram, que respeite os estatutos do partido e os seus princípios fundamentais. Porque caso isso não aconteça, julgo que o melhor é criar um partido novo que apoie tomadas de posição dessa natureza.

O PSD não é isto e não pode ser isto.

 

15
Jul13

é a economia, estúpido

jorge c.

Alguém dizia, há uns dias, que quando em tempo de crise se fala à carteira das pessoas, há uma imediata aceitação do discurso. É a isto que chamamos populismo.

Mas, para além do populismo habitual e perigoso de moralistas como José Gomes Ferreira, Camilo Lourenço ou o Pato Donald, há um discurso, noutra linha, também ele perigoso e que já conduziu o país a 40 anos fora dos mercados (do mercado da liberdade, da igualdade, da democracia, etc.). É o discurso da prevalência da economia, que nos diz que a sociedade corre por motivos económicos, como uma finalidade.

O objectivo de um sistema como a social-democracia, e por ter nascido no pós-Guerra, é tornar evidente que as democracias são regidas pela política, pelo interesse público e pela necessidade de paz e harmonia social.

Quando a construção de uma nova narrativa passa a desenhar a finalidade financeira e económica, então sabemos que nos estamos a desviar do objectivo inicial. A única forma que um discurso sobre a prevalência da economia tem de triunfar é através da coação, da imposição, da negação de liberdades individuais e colectivas, do empobrecimento estrutural do país. Ao aceitarmos empobrecer, aceitamos não nos desenvolver, porque o empobrecimento pressupõe desigualdades mais abrangentes, como se viu no Estado Novo.

Por isso, sempre que me falarem de superavits, de cortes na despesa e de pagamento da dívida, cantarei a Maria da Fonte.

10
Fev13

O grande taxi do inferno

jorge c.

O problema da petição pela moralidade não é o seu grau de moralismo mas, antes, a altura em que surge. Como diria Frankie Pentangeli, em O Padrinho II, nunca deveriam ter deixado Hitler sair de Munique. Uma crise financeira é propícia a estas romarias dos arautos da "crise de valores" e isso pode tornar-se muito perigoso. É uma caça às bruxas. Conhecemos bem as consequências mais graves destes circos.

O populismo moralista é um perigo numa sociedade livre. Ele parte de um fenómeno demagógico, de uma adulteração dos factos para galvanizar a preponderância popular. A sua linguagem é sempre muito próxima da íntima desconfiança das pessoas. Liga-se, com facilidade, à sua condição de eleitor, sem influência directa nas decisões políticas, nos tribunais, etc. "Tudo uma cambada". Alimenta-se, assim, a sensação da sua impotência e da impunidade dos outros.

Não quer isto dizer que essa impunidade não exista. Não quer dizer que as instituições estejam, ao dia de hoje, a passar o seu melhor momento de credibilidade. Não estão. Porém, uma generalização é o primeiro passo para a tolerância de uma liberdade condicionada. 

Mas, o moralismo tem sempre um lado cómico. Lembrar-se-ão, certamente, de Charles Foster Kane, da sua declaração de princípios e da sua tentativa de incursão no Senado. Mesmo assim, parece que não aprendemos; que nos deixamos dominar por esse impulso irracional do justicialismo. Talvez seja falta de amor ou, simplesmente, má-fé intrínseca. 

22
Out12

Onde mora a crise

jorge c.

O Sr. Primeiro-ministro de Portugal, envolvido involuntariamente numa divulgação de escutas, resolveu fazer aquilo que o bloco central faz de melhor: o oposto do seu antecessor, para efeitos de moralismo.

Assim, pediu a publicação dessas escutas. Corajoso, Pedro Passos Coelho preferiu optar pelo papel dos homens corrompidos de Haddleyburg, numa mise en scéne egocêntrica, do homem que não teme. Preferiu isso a ser Primeiro-ministro de Portugal e apelar ao cumprimento cabal da lei, à conservação do Princípio da Separação dos Poderes, ao respeito pelo segredo de justiça e ao combate ao justicialismo.

Em rigor, PPC é um político ignorante, sem cultura democrática, que desconhece as instituições e a virtude das mesmas. É um homem que desconhece as regras do Serviço Público e que se confunde com o poder, numa dinâmica que diz mais ao autocracismo do que à democracia.

Não é uma coisa da esquerda ou da direita. Nunca foi isso que esteve em causa.

03
Out11

Prioridades gourmet

jorge c.

A agenda setting do Governo foca-se, esta semana, no debate sobre a redução autárquica - um truque gourmet que fará, certamente, algum sentido.

No entanto, será que este é o momento oportuno para alterar uma estrutura que pouco impacto imediato terá na realidade do país e que pode, até, ter os seus custos?

Tudo isto parece um perfeito despropósito com o doce trago do populismo.

21
Ago11

Confissões de um demagogo

jorge c.

Peça interessante, esta. Um jornalista resolveu sair da frente do monitor do computador e procurar um porquê.

Foi, então, em busca do comentador irado, um apontador de problemas, um denunciador da escumalha política. Foi, acima de tudo, encontrar um cidadão comum que, como todos os cidadãos comuns, se acomodou no sistema e que considera que a sua participação política passa apenas por votar, comentar e exigir; que, como todos os cidadãos comuns, quando as coisas não correm bem começa a pedir cabeças e a falar em organismos independentes, menos políticos.

A verdade é que, no fim deste artigo, fica-nos uma frase: "Sou demasiado pequeno para mudar o mundo.” Esta confissão de impotência é compreensível. Os agentes políticos não podem olhar para ela como uma coisa menor - muito pelo contrário. Mas, também não é correcto sustentar que o descontentamento tudo permita. Não pode permitir a demagogia e o populismo, as armas que levaram ditadores ao poder porque estavam do lado cego do descontentamento.

O sr. M, como todos os senhores M's deste mundo, tem falta de memória histórica.

05
Jul11

Vai e não voltes

jorge c.

Não será preciso dizer muito mais do que isto e do que isto sobre a renúncia de Fernando Nobre ao seu mandato de deputado. Nobre, como todos os populistas e demagogos, sofre de vaidade e a sua ambição era apenas mostrar-se moralmente superior. Acontece que o seu lugar na Assembleia da República não se resume à tribuna plenária e Nobre não tem inteligência nem discernimento suficientes para compreender que uma saída imediata deixa a descoberto a sua incapacidade política.

Durante as Presidenciais ficou mais do que claro que Fernando Nobre não tinha condições para exercer um cargo político por falta de adequação. A ideia de que um independente, militante contra a classe política, teria algo a ver com cidadania esbarrou na realidade e no trabalho que um cargo político envolve. Ainda assim, Nobre tem o descaramento de afirmar isto. É um homem sem o mínimo de noção da sua própria inadequação. Um tonto. Um perigo que felizmente se tornou inconsequente.

11
Abr11

É a loucura

jorge c.

Não é tanto a incoerência e surrealidade da postura de Fernando Nobre que me incomoda. A isso já deveríamos estar habituados desde a sua inenarrável campanha para as Presidenciais. Espanta-me, isso sim, que o PSD convide este cavalheiro para encabeçar as listas por Lisboa para as legislativas com o objectivo de, se ganhar, torná-lo Presidente da Assembleia da República. Fernando Nobre não deveria sequer conseguir chegar a Presidente da Assembleia de Freguesia de Custóias, quanto mais... Está tudo doido.

06
Abr11

A ignorância das frustrações

jorge c.

Temos um problema sério para resolver em Portugal. Uma parte significativa dos portugueses acredita que votar é um favor que se está a fazer aos políticos. Isto é muito grave porque parte de uma linguagem demagógica que resulta invariavelmente em líderes populistas que acabarão, mais cedo ou mais tarde, por restringir-nos direitos, liberdades e garantias. Num tempo de crise financeira, a crise política aguça este engenho populista e conquista o coração dos mais distraídos, dos mais incautos, que vêem nas mensagens anti-política, anti-sistema, anti-regime, anti-banca, anti-tudo o que cheire a poder, a tónica certa para tapar a sua incapacidade crítica objectiva.

É importante que, para isto, os agentes políticos saibam ser pedagógicos e expliquem a relevância de um sistema partidário, das mais simples vantagens da democracia, do financiamento público e da remuneração e não se deixem envolver pelo élan populista.

O crescimento da demagogia em Portugal é alarmante. Mesmo quando se lança este alerta é-se facilmente julgado como protector do regime corrupto, tachista e por aí fora. Temos um problema sério para resolver em Portugal.

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