jorge c.
Fico com a ideia de que a maioria das pessoas tem algum desinteresse pela campanha eleitoral. Só pelas redes sociais é que há um surto forçado de campanha e que tem como foco principal Cavaco Silva. Julgo que se tratará mais de um facto do que de uma percepção exclusivamente minha.
Com um cenário destes, o meio dos que gostam de debater a política está um pouco condenado a cair no erro dos casos laterais e dos soundbites sem conteúdo ou enganadores. Poderá ser este um dos motivos para o desinteresse dos cidadãos em geral? Eu julgo que sim. Não porque as pessoas tenham necessariamente consciência do fraco grau de debate, mas sim porque deixam de compreender a necessidade da política nas suas vidas por falta de esclarecimento.
Ora, se os media tradicionais optam pelo lado da campanha menos relevante para o país (reflexo do que os candidatos transmitem), deveria caber aos comentadores, aos bloggers e aos milhares de pessoas espalhadas pelas redes sociais uma discussão mais profunda porque são estes os que a mais informação têm acesso. Limitarem-se a reproduzir soundbites das assessorias dos candidatos e dos partidos é um sinal evidente do falhanço do debate democrático.
Acima de tudo, estamos perante uma falta de juízo crítico provocada pelo sectarismo e pela propaganda. Alimentam-se expressões-chave ou casos sem uma acusação em concreto, levantando suspeitas sobre as pessoas, e ignora-se a substância política de cada candidatura. Para que serve a Presidência da República? Quais os seus poderes e funções? Não, nada disso. É preferível discutir a insignificância de um artigo matricial numa escritura pública (sem saber ao certo do que se está a falar, mas levanta-se sempre a suspeita), o passado extremista do candidato ou se é o partido A ou B que dá ou não dá apoio, e por aí fora. A desculpa é o escrutínio do carácter dos políticos. Já comi pior e não paguei.
Dizem que os soundbites resultam, porque as pessoas não querem conteúdos. Eu muito gostava de saber quem é que lhes passou procuração sobre o que os eleitores querem ou não. Os eleitores não são estúpidos e a culpa do regime não é deles. Responsabilizar o povo, em abstracto, pelo resultado das suas opções é desresponsabilizar os políticos da sua vertente pedagógica e honestidade intelectual. Conhecemos muitos instrumentos para fugir a essa responsabilidade: o populismo, a demagogia, a propaganda, etc.
A repetição do discurso vazio das candidaturas por pessoas informadas, por puro sectarismo, é que vai, então, revelar essa falta de juízo crítico e incapacidade de pensar e promover a política como um bem comum e não como um projecto egoístico que não olha a meios para atingir fins. Compete-nos ser exigentes com o debate político e não nos conformarmos com o caminho que cada vez mais ele toma.