Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

20
Jan14

lealdade

jorge c.

Por suprema ironia foi Teresa Leal Coelho, figura próxima do Primeiro-ministro, que em consciência faltou à votação sobre a proposta de referendo aprovada na passada sexta-feira e que se demitiu da direcção da bancada parlamentar. Teresa, leal a Coelho, compreendeu que a sua lealdade deve-se primeiro ao país, à democracia representativa e às instituições democráticas. À jogada mesquinha e perigosa do líder da bancada parlamentar do PSD, com a conivência do presidente do partido, reagiram outro(a)s deputado(a)s com declarações de voto, após votarem favoravelmente por imposição de disciplina de voto, violando assim a sua própria consciência e a lealdade ao povo que representam e que lhes confia a maior diligência no desempenho das suas funções. Ora, por mais incompreensível que seja a imposição de tal disciplina em questões de consciência e não instumentais, exige-se que prevaleça sempre essa lealdade e responsabilidade com a confiança do eleitorado. Não está aqui em causa estar ou não de acordo com a matéria. O que está aqui em causa é repudiar o procedimento.

01
Out13

a grande avalanche

jorge c.

As eleições autárquicas são eleições locais e tirar conclusões a nível nacional pode ser muito perigoso para a democracia. Não é, neste caso. Exemplo máximo disso mesmo é o caso da Madeira. O mapa autárquico demonstra que a derrota do PSD é nacional e deve ser encarada como uma derrota partidária. Isto, como é evidente, relativiza a vitória do PS. Porque quando falamos de política em democracia, as vitórias ou derrotas dos partidos não devem ser a finalidade. Um partido não é um clube de futebol. E no panorama autárquico, os partidos perdem o controlo de parte substancial das suas candidaturas. Senão, veja-se o caso do Bloco de Esquerda em Elvas e do seu candidato racista, situação que foi de imediato e muito bem resolvida pelo partido. Quando um partido ganha uma autarquia com um candidato que não corresponde aos seus princípios de base, ou não preenche os requisitos éticos, então há sempre derrota. São vitórias do sectarismo ou do populismo sobre a democracia.

A lógica eleitoral do PSD não tem sido esta, infelizmente. Preocupados com quantos delegados conseguem meter no Congresso, em quantas listas de comissões políticas conseguem ter absoluto controlo, os responsáveis pelas concelhias e distritais do partido esqueceram-se do que é o serviço público e do que é fazer política. Oferecem-se lugares sem critério, multiplicam-se promessas para fazer aliados e destruir toda a concorrência possível. Afastaram, nos últimos 20 anos, muita gente que não se revia nesta forma pequena e irresponsável de fazer política e que faz, hoje, muita falta.

Foi precisamente neste cenário que o PSD foi crescendo para a decadência. Porque com um trabalho com qualidade nas autarquias, é difícil que os eleitores se deixem influenciar de forma tão declarada contra um autarca do partido do governo. É que torna-se importante lembrar que as autárquicas são sempre o rosto de alguém cuja proximidade não é só mediática.

Pedro Passos Coelho conseguiu, assim, juntar no mesmo pote todos aqueles que contribuiram para a grande avalanche que leva, hoje, o PSD a ser uma sombra do partido que foi. 

A eleição de Rui Moreira, no Porto, configura um manifesto de cidadania contra esta dinâmica do PSD, que poderia ter resultado num autêntico desastre, como aconteceu no resto do país e não apenas com o PSD. A proposta eleitoral de Rui Moreira deu aos cidadãos do Porto a certeza de que é possível acreditar na política local como um instrumento sério para o desenvolvimento e reforço da comunidade. A diferença entre a sua candidatura e as outras era notória e a cicatriz que isso deixa nos partidos pode ser profunda e dolorosa.

Por outro lado, também a emagadora vitória de António Costa em Lisboa não pode ser ofuscada pela panorâmica nacional. Costa tem feito um bom trabalho na cidade de Lisboa. É um presidente próximo dos cidadãos e da cidade, garantindo um sentimento geral de comunidade.

Mas, apesar da sua aclamada vitória, o PS também não pode ignorar as circuntâncias destas eleições (é claro que vai ignorar porque ganhou e o sectarismo é uma coisa tramada). A CDU, por exemplo, colheu os frutos do seu enraizamento dentro das comunidade e, muitas vezes, do seu excelente e reconhecido trabalho autárquico em concelhos muito difíceis, onde o PS falhou. O Bloco de Esquerda sofreu o seu centralismo na pele, demonstrando que não é um partido para autárquicas. Tudo isto terá consequências. Algumas delas podem ser dramáticas tendo em conta o inconformismo com a política partidária que vai crescendo como tendência.

O cenário não é, de todo, agradável. Por isso, torna-se urgente reflectir e agir dentro dos partidos sobre aquilo que interessa às comunidades e não terem, apenas, como desígnio nacional, a vitória. 

É preciso salvar os partidos dos seus verdadeiros carrascos. 

 

 

02
Set13

Carta aberta ao Presidente do PPD/PSD

jorge c.

Caro Pedro Passos Coelho,

 

Quando em 1997 me filiei no Partido Social Democrata, assumi, com a humildade que a tenra idade me permitia, que era um partido que me tinha a mim e não o contrário. É um acto de consciência fundamental para um militante compreender que, para participar politicamente num partido democrático, os princípios e estatutos que o regem são fruto de uma realidade política colectiva, de serviço público, e não um mero instrumento de chegada ao poder para fabricar uma outra realidade.

Para chegar a esta conclusão e aceitar subscrever os estatutos do PSD tive, quase ao mesmo tempo, de compreender o sistema e o regime político do meu país. Era essencial para a minha consciência cívica. E mesmo com as alterações que são comuns e legítimas, há uma coisa que não posso esquecer e que aqui partilho consigo:

 

"(...)

Capítulo I - Princípios Fundamentais

 

Artigo 1º (Finalidades)

 

1. O Partido Social Democrata (PPD/PSD) tem por finalidade a promoção e defesa, de acordo com o Programa do Partido, da democracia política, social, económica e cultural, inspirada nos valores do Estado de Direito e nos princípios e na experiência da SocialDemocracia, conducentes à libertação integral do homem.

2. O Partido Social Democrata concorrerá, em liberdade e igualdade com os demais partidos democráticos, dentro do pluralismo ideológico e da observância da Constituição, para a formação e a expressão da vontade política do Povo Português.

3. O Partido prossegue os seus fins com rigorosa e inteira observância das regras democráticas de ação política, repudiando quaisquer processos clandestinos ou violentos de conquista ou conservação do poder.

(...)"

 

Certamente que reconhece os estatutos do nossos partido. E é precisamente com eles que lhe quero transmitir a minha absoluta repulsa por vários militantes do PPD/PSD terem aplaudido as suas inenarráveis palavras, proferidas durante Universidade de Verão.

A sua opinião sobre a Constituição da República Portuguesa é-me indiferente. Não lhe reconheço, a título pessoal, qualquer grau de conhecimento sobre qualquer assunto civilizacionalmente relevante. Porém, enquanto presidente do partido do qual sou militante (já para não falar enquanto Primeiro-ministro de um Governo Constitucional) exijo-lhe, a si e a todos os que com modos acéfalos o aplaudiram, que respeite os estatutos do partido e os seus princípios fundamentais. Porque caso isso não aconteça, julgo que o melhor é criar um partido novo que apoie tomadas de posição dessa natureza.

O PSD não é isto e não pode ser isto.

 

19
Set11

O embaraço

jorge c.

A dívida da Madeira está a causar um embaraço dentro do PSD. Acontece que o embaraço suscitou uma reacção pouco nobre e paradoxal: a relativização.

Não podemos, de modo algum, andar durante 6 anos a apontar o dedo por causa de uma relativização politicamente prejudicial e pouco transparente para, depois, cair no mesmo erro. Para além da falta de imaginação é, também, falta de consciência crítica. Esta parece ser a doença dos tempos que correm.

21
Abr11

Passos errados

jorge c.

Quando um partido político se dispõe a disputar o poder é conveniente que saiba gerir a construção do seu programa. Em política não se mostra serviço, mas sim estrutura e consistência. A serenidade que o sentido de Estado exige não é conseguida apenas através de postura e palavras vagas de um qualquer trabalho de escola feito em dois dias. Os cidadãos podem ser ignorantes, mas não são estúpidos. As pessoas sentem que há qualquer coisa que não bate certo. Vivemos um tempo onde cada vez mais se nota um primado da comunicação e da imagem sobre os conteúdos. Ora, à falta de conteúdos firmes e objectivos, de nada vale este tipo de serviços hoje tão requisitados.

Desde a sua tomada de posse como Presidente do PSD, Passos Coelho foi-se precipitando numa ânsia muito denunciada de chegar ao poder. É claro que se pretende que os partidos queiram o poder. O contrário é avesso à sua natureza. Contudo, é exigível a um partido como o PSD  que saiba o seu lugar e trabalhe com rigor e assertividade o seu programa e o seu eleitorado. Torna-se hoje claro que isto não aconteceu. Desde a sugestão inconsequente de Revisão Constitucional até ao encontro com as entidades internacionais de ajuda financeira internacional, foram demasiadas as inconsistências do PSD. Passos fez do PSD um partido inexperiente, coisa que até agora não fazia parte da imagem do partido. Que o líder seja tomado por inexperiente é uma coisa. Já que o partido se transforme à imagem e semelhança do seu líder é outra conversa.

Sem uma ideia para o país nas diversas matérias que importam ao Estado e à sociedade portuguesa em sentido amplo, Passos e o seu staff foram incapazes de mostrar aos portugueses que constituiam uma verdadeira alternativa com força e liderança suficientes para conduzir uma possível governação. Meia dúzia de palavras vagas não chegaram para mobilizar os eleitores. A pouco mais de um mês das legislativas, parece ser evidente que o PSD de Passos vai ter muitas dificuldades em recuperar os erros que tem vindo a cometer. E, acreditem, têm sido demasiados.

31
Mar11

Zumbido de campanha

jorge c.

Estas linhas de orientação para o programa eleitoral do PSD são um conjunto de generalidades, nada mais do que isso. Eu sei que são apenas linhas orientadoras e não o programa em si mesmo, mas nós já começamos a ouvir estas generalidades no zumbido de campanha. Fala-se em tudo, mas não se sabe falar de nada. A mediocridade do staff passista está em decorar a canção mas não saber ler a pauta.

O PSD não deve estar à espera que o ódio a Sócrates seja o suficiente para as pessoas irem a correr votar. E se quer mostrar seriedade, honestidade  e consistência no debate político não lhe bastará dizer que vai apostar no investimento e que exige mais dias de céu limpo a pouco nublado. Terá de ir bem mais longe. Quando nos propomos a ajudar à criação de um problema temos de ter já a solução preparada. Isso não é evidente.

28
Mar11

Patranhas

jorge c.

Uma pessoa nunca deve confiar no Partido Socialista. Não é por mal, nem por nenhum outro motivo que seja passível de ser atribuído como característica de outro partido. Normalmente costuma dizer-se "ah, no PS é só boys", mas uma pessoa sabe que boys são, em rigor, cargos de confiança política para ter a máquina mais oleada e que isso todos os partidos têm. É verdade que uns podem ser mais competentes que outros, mas isso é, como diria um amigo meu, a puta da subjectividade. Noves fora, aprende a nadar companheiro.

O PS não é de confiança porque é um partido que, em última análise, é nihilista, como aquele rapaz no Big Lebowski - these men are nihilists, Donnie, they believe in nothing. É um partido que foi sugando o território ideológico do PSD e consequentemente o seu eleitorado mais forte que é a classe média que não passou a sua juventude a ler filosofia francesa e não andou estes anos todos enganada com as patranhas de um socialismo que já teve tantas mudanças de narrativa como os Morangos com Açúcar.

22
Mar11

Conversa de saco

jorge c.

Ontem, o ministro Jorge Lacão veio fazer um número à volta de uma declaração do PSD em estrangeiro. Mas PPC nem esteve mal de todo na resposta. Pelo menos pensou o mesmo que eu, que já não é mau. Lacão acha que os portugueses não raciocinam. Tanta coisa a defender que não existe facilitismo na educação para depois subestimar o raciocínio do comum dos cidadãos, como diria o Prof. Cavaco Silva, o nosso Presidente.

O Dr. Lacão, como muita gente à volta do PS, tenta passar a ideia de que o PSD se mostrou disponível para viabilizar o PEC e agora quer cortar as pernas e faltar à palavra provocando uma crise política. Dito assim até parece verdade. Esta coisa da comunicação tem a sua piada. Não é que a postura do PSD seja a melhor de sempre, mas o PS anda a ver se sacode a água do pacote. Não é brejeirice minha, é economia política.

O PSD mostrou-se disponível para viabilizar o PEC, verdade. O Governo antecipou a apresentação de um pacote às instituições europeias sem consultar a AR ou o PR, ou seja, os órgãos de representação popular, verdade. As instituições europeias dizem que o acordo é irrevogável porque o Governo se comprometeu, verdade. A proposta importa um conjunto de medidas que não foram discutidas entre os partidos, verdade. O PSD afirmou que não aprovaria o PEC nestas condições, verdade. O PSD criou uma crise política, como diz aqui o João Galamba? Mentira. O PSD ajudou a criar uma crise política porque o Governo não é o país, como já foi aqui dito. O Governo representa o país e não se pode comprometer lá fora com algo que tem de justificar cá dentro. A sua posição política é demasiado frágil para andar feito dona de casa desesperada.

Além de que esta conversa do "quem provocou a crise política" já enjoa. Em última análise a responsabilidade é sempre do Governo que é quem - ora bem! - governa.

Neste momento resta uma hipótese a José Sócrates que é apresentar uma moção de confiança. As relações institucionais estão completamente destroçadas. Muito disso se deve ao discurso combativo do PS durante os últimos 5 anos, "todos contra nós". Não perceber que pior do que uma crise financeira é uma sociedade desagregada é também não compreender a estrutura e a forma da democracia. É preciso restaurar a confiança, o respeito e a coesão institucional. Não quero com isto dizer que o PSD o vá conseguir, mas que pelo menos o PS devia tentar recuperá-lo. Ou então, seguir caminho, que se faz tarde.

21
Mar11

Dos conteúdos

jorge c.

Pedro Passos Coelho afirma que "o PSD não deixará o país ficar numa situação pantanosa". É uma promessa? Pronto, nós acreditamos e vamos já todos votar no PSD para assumir os destinos do país sem sequer saber o que pensa a direcção do partido da educação, da saúde, da cultura, do ambiente, do emprego, da justiça, da ciência, da Europa, do Mundo, enfim... Economia é suficiente. Vamos a votos!

Não obstante a necessária responsabilização do Governo por questões que aqui têm sido levantadas, parece-me que o PSD tem de ter alguma calma. Está tudo muito excitado com a possibilidade de chegar ao poder. E atenção, que apresentar um programa com a rapidez daquele inenarrável projecto de Revisão Constitucional pode não ser a melhor solução. O Governo não é a distrital do Porto.

28
Fev11

Uma casa portuguesa

jorge c.

O Pedro Marques Lopes ensaia aqui uma passo doble, mas ele sabe que não passa de uma revienga. A questão que se coloca não é se Rio está ou não melhor preparado que Passos Coelho. O ónus da preparação está no Dr. Passos Coelho. Porque antes de ser Presidente de Câmara, o Dr. Rio foi Secretário-Geral do PSD. É um político com um percurso concreto e objectivo. Já o Dr. Passos Coelho foi líder da JSD e vai dizendo umas coisas que nós ainda não sabemos se vêm da cabeça dele ou não. Portanto, tem muito por provar ao país (não é ao partido, porque já é Presidente). Se calhar, se tivesse sido Presidente de Câmara já lhe conhecíamos algumas qualidades. Assim sendo, só lhe conhecemos a retórica insípida de quem não quer grandes comprometimentos e a instrumentalização das distritais e concelhias para preparar um aparelho. O meu querido amigo repare, por exemplo, que não se conhece qualquer ideia do PSD de Passos Coelho em relação à Europa. O que faz com que qualquer cidadão desconfie quando depois - só depois, já sabemos como é - do encontro de Sócrates com Merkel o Dr. Passos Coelho vier dizer qualquer coisa. Ou seja, é sempre extemporâneo. Em suma, não se trata dos outros vs. PPC. Trata-se, isso sim, de PPC mostrar que tem uma ideia, uma estratégia, uma definição de objectivos que até agora ainda não mostrou. De resto, o que Santana Lopes está a fazer foi o que a entourage de Passos Coelho andou a fazer durante 2 anos à Dra. Ferreira Leite - um vício de família.

 

 

Adenda: apercebi-me agora que o título que escolhi para este post tinha sido utilizado por Vasco Pulido Valente. É evidente que o meu título se refere às zaragatas dentro do PSD e nada têm que ver com o que escreve VPV.

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Um blog de:

Jorge Lopes de Carvalho mauscostumes@gmail.com

Links

extensão

  •  
  • blogues diários

  •  
  • media nacional

  •  
  • media internacional

    Arquivo

    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2013
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2012
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2011
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2010
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D