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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

02
Out11

Nas redes como na vida

jorge c.

No outro dia, um colega meu informava os restantes presentes que, em média, cada pessoa passa 2 horas e meia no Facebook. Este dado gerou logo o espanto geral. Como é que é possível? No que nos estamos a tornar? Calma, calma. Há 15 anos atrás, um estudo feito por profissionais do ramo dizia que, em média, as crianças viam 4 horas e meia por dia de televisão. Já ninguém se lembra. O mundo, entretanto, não acabou, essas crianças cresceram e deixaram de ver televisão para passar a estar no Facebook numa média de 2 horas e meia.

As empresas, hoje, preocupam-se muito com o tempo que as pessoas perdem nas redes sociais. Não duvido que tenham alguma razão. Mas será um problema das redes, em si, ou do utilizador? Será que eu posso ser condenado por utilizar as redes pelos mesmos motivos que o meu colega do lado? Que utilização dela fazemos?

Não devo projectar a minha própria utilização. Desde que me lembro da existência de feeds que uso tudo o que estiver ao meu alcance para absorver informação. É uma forma simpática de não perder tempo a consultar jornais e estar, ao mesmo tempo, informado. As redes sociais aumentam ainda mais este potencial, se cada pessoa contribuir. Quando isso não acontece temos bom remédio: delete.

O que vou notando, com o tempo, é que os utilizadores de Facebook, por exemplo, estão agarrados a um sentimento de posse da sua rede e não fazem, muitas vezes, ideia do seu potencial. É muito fácil confundir comunicação com coscuvilhice. Mais fácil ainda é culpar o mundo pela nossa própria rede social. Habituado a ser cliente na vida, o utilizador comum projecta as suas pequenas frustrações na pobre ferramenta. O último grande disparate é esta questão levantada por este texto.

Quanto mais não seja, as redes sociais são aquilo que nós fazemos delas. As pessoas que seleccionamos são uma opção nossa. Aquilo que dizemos publicamente é uma opção nossa. As discussões em que nos metemos são uma opção nossa.

Há cerca de dois anos, um texto de Miguel Sousa Tavares ficou muito famoso por se mostrar contra o Facebook. Na opinião do autor, para além da já habitual doutrina de costumes as far as he can see, o Facebook é uma invasão de privacidade. Ora, a opinião de MST não é muito diferente da de pessoas que estão na rede e que nela participam todos os dias, nem que seja a ver o que os outros lá colocam.

Quero dizer com isto que tem tudo muito mais a ver com uma desorientação generalizada, uma ansiedade social e uma projecção de frustrações. Não podemos achar que as redes vieram agravar a decadência da civilização. Podemos, sim, gerir melhor as nossas redes, decidirmos com firmeza o que queremos e o que não queremos nas nossas vidas, em vez de esperarmos que, por obra e graça do Senhor e das queixinhas, seja feita a nossa vontade.

22
Mai11

A crise da ironia

jorge c.

Acordam-me de manhã: "apareceste na televisão". O pânico. Não é algo de que uma pessoa se possa orgulhar, principalmente a um Sábado de manhã. Nunca se sabe o ponto a que chegou a noite de Sexta. Mas desta tinha a certeza: fiquei em casa. Vasculhei e descobri que afinal tinha sido um tweet meu a ser exposto em praça pública. E perguntam vocês: o que é um tweet? Ainda bem que perguntam. Devemos sempre perguntar quando não sabemos. Um tweet é um micro post-it do Twitter - uma rede social simples, rápida e directa onde se escreve apenas em 140 caracteres. Mas não basta isto. Com o tempo percebemos que não só podemos tuitar, como podemos retuitar (uma espécie de citação) e responder a todos os que seguimos e àqueles que nos seguem (ao contrário do Facebook, no Twitter não é necessária reciprocidade). Bastarão - digamos - uns dias para entrar dentro da coisa e perceber o seu funcionamento, alguns dos seus truques e a sua dinâmica. Para tudo na vida é necessário algum enquadramento.

Acontece que ontem, durante as notícias da manhã, Daniel Catalão, como já vai sendo hábito, foi mostrando algumas das reacções das redes sociais ao debate entre Passos Coelho e Sócrates. Os media tradicionais adoram ver o que se passa nas redes sociais quase tanto como eu adoro livros. É uma preocupação que quase chega a parecer genuína e comovente. E tal como podemos ver aqui, aos 22 minutos, lá apareceu este vosso camarada citado por Daniel Catalão como se tivesse sido o autor do tweet "vencedor do debate não sei. mas quem perdeu sei bem: portugal". Ora, como será bom de verificar não fui eu que disse isso, mas sim a tuiteira @NadiaMelk como fica bem visível no vosso ecrã. O que eu fiz foi um RT, ou seja, um retuíte; eu citei a @NadiaMelk fazendo um pequeno comentário antes.

Nesse meu pequeno comentário, parece ser mais ou menos evidente que estou a ser um bocadinho parvo. Bem sei que não sou muito hábil na utilização de figuras de estilo, e aquilo que pode não ter parecido uma tentativa cobarde de não ofender a minha amiga devido à utilização absurda de um lugar comum despropositado é, de facto, uma reles ironia. Julguei que fosse mais ou menos evidente.

Os media tradicionais querem usar as redes sociais a todo o custo. Eu compreendo que não seja por mal. É aquela velha euforia do empresário português "agora é isto que está a dar". Ah, a modernidade! Convém, pelo menos, que saibam o que estão a fazer e que não façam o meu pai (que assistiu a tudo isto, meu Deus) ter quase um colapso a acreditar que eu teria algum dia dito que "portugal tinha ficado a perder" como se diz nos funerais das estrelas da Emissora Nacional.

Não quero com isto ser mal agradecido. Eu adoro ser famoso e agradeço a atenção. É um sonho de criança.

15
Jan11

Despertares: o que move as redes sociais?

jorge c.

É sempre curioso ver o que move as pessoas. Ontem, o tema que montou uma comunidade internacional espontânea à volta das redes sociais foi a situação na Tunísia. Também os media por todo o mundo focaram a sua atenção no país que até há uma semana não era mais que uma estância balnear. Havia até quem nem colocasse a hipótese daquilo ter um Governo ou um Chefe de Estado.

Mas, o que terá movido esta comunidade espontânea para esta questão, na mesma semana em que começou o referendo no Sudão, ou poucas semanas depois de ter estourado uma crise na Costa do Marfim? É como se tratasse de um micro-fenómeno de popularidade (sem follow up, como sabemos). O país que tiver sorte de ser mais sedutor a estas comunidades tem direito a toda a atenção necessária à causa. Os outros ficam um bocadinho à sua sorte (estou a exagerar, claro, visto que a comunidade internacional está atenta a todas as crises políticas).

Isto levanta uma questão mais ampla: o que move as redes sociais?

28
Dez10

Até dói

jorge c.

A Alda faz aqui uma consulta de graça à imagem da Ensitel e levanta questões relevantes na forma como as empresas devem lidar com uma linguagem para a qual não estão minimamente preparadas (pelo menos muitas delas, pelo que vamos percebendo).

 

Se é verdade que as empresas portuguesas têm uma péssima relação com a comunicação, nomeadamente com as redes sociais, também não deixa de ser verdade que as redes sociais e os seus utilizadores poderão chegar a um ponto de descredibilização devido ao seu discurso radical. Nenhuma causa chegará a bom porto com discursos de ódio.

 

A certa altura, deixa de se perceber o motivo que leva a uma manifestação virtual e acaba-se inevitavelmente no ataque massivo acéfalo. Por mais prejudicial que isto seja para a empresa, começa a desenhar-se um padrão que qualquer dia fará com que estes movimentos percam credibilidade.

 

Hoje de manhã, através do Pedro Magalhães, descobri que Denis Dutton morreu. Este senhor foi o criador do Arts & Letters Daily e percebeu muito cedo que era possível promover verdadeiros conteúdos na web. O site é, hoje, um dos mais reconhecidos no mundo. Por isso, seria muito bom que se entendesse a web como este lugar de livre expressão e ao mesmo tempo credível que debate os assuntos numa lógica consciente.

 

As redes sociais - os seus utilizadores - têm ainda muito a aprender para compreender a sua relevância e tornar a sua voz mais eficaz. Como diria esse grande filósofo, o tio do Homem Aranha: "um grande poder gera uma grande responsabilidade".

15
Dez10

Sobre o Facebook - um post que me pode trazer tantos dissabores

jorge c.

 

Mark Zuckerberg é o homem do ano, para a Time. Faz sentido. O Facebook é indiscutivelmente um fenómeno global e deu à internet uma nova vida. No meio de todas as redes sociais, esta é hoje a mais concorrida (vamos colocar o YouTube ou o YouPorn noutra prateleira). O mediatismo é tal que até aos cinemas chegou - A Rede.

Mas, o que traz mais o Facebook ao universo virtual, para além da participação?

Acreditou-se que através dos social media a divulgação de informação seria muito maior, tal como a sua acessibilidade. Contudo, hoje, a utilização que vemos ser feita da rede Facebook é sobretudo fútil, desinteressante e vouyeurista. É claro que isto parte da observação da minha página pessoal. Mas dá para perceber, pelo menos, aquilo que o utilizador comum faz de um instrumento com tantas potencialidades. De notar, também, que no Facebook as linguagens misturam-se. Adicionamos amigos, familiares, colegas de trabalho, pessoas que vamos conhecendo de outras redes sociais (blogs, twitter, etc.) ou até mesmo pessoas que não conhecemos de lado nenhum.

Esta particularidade é muito interessante e merece alguma atenção. Quando eu junto num universo virtual pessoas que nunca se iriam encontrar, o mais provável é gerar-se algum desconforto. A linguagem que uso com os meus amigos não é certamente a mesma que uso no meu trabalho. Por isso, mandar para o caralho a Shyznogud, ou ela mandar-me a mim, pode constranger, de certo modo, o meu chefe, ou até a minha mãe. Os amigos da família têm, também, outra linguagem. Mas mais do que estes, as pessoas que conhecemos da internet compreenderão muito mais a nossa linguagem escrita do que muitos daqueles que conhecemos de longa data. Não nos podemos esquecer que aqui usamos uma linguagem escrita e que nem todos conseguem decifrar coisas simples como a ironia (essa criatura tão mal tratada e tão incompreendida por estas bandas) ou nem mesmo deixar de se levar tão a sério. Daí que não faça muito sentido querer reunir o mundo dentro de casa sem qualquer critério. Veja-se, a título de exemplo, o tom de retórica que adequamos a cada espaço e a cada pessoa - ali é para todos.

O que a net nos dá é uma das melhores oportunidades para aprender a filtrar e a ter critérios na selecção de pessoas com quem queremos partilhar informação. Recuperar o passado ou querer observar a vida alheia, para além de fútil, é egoísta, mais egoísta do que este meu comentário que é apenas pretensioso e snob. Para o poder fazer criei um blog (que muitos deles - os amigos - nem fazem ideia que existe porque lêem isto no feed do Facebook e por ali se ficam).

O ruído que hoje existe no Facebook é ensurdecedor: joguinhos e frasesinhas de pacote de açúcar e criancinhas abandonadas, ou cãezinhos, e merdinhas inúteis que dantes apenas nos surgiam pelo e-mail. Todo esse ruído que caía em bloco no mail até ao meio-dia passou todo para lá. É claro que eu não sou obrigado a adicionar ninguém, mas depois acontecia-me isto:

 

 

Não quero com isto dizer que a minha utilização da rede seja melhor do que a dos outros. Bem, em parte... No entanto, parece-me que nem todos estarão conscientes daquilo em que se tornou a internet enquanto navegavam serenamente entre o MSN e o Hi 5. Reduzir a utilização da internet a uma rede social apenas é, no mínimo, pateta.

Num destes dias estava num café com uma amiga. Entretanto, chegou uma miúda. Sentou-se na mesa do lado e abriu o portátil com ele virado para mim. Abriu o Facebook e ali ficou durante todo o tempo em que lá estive. Acredito que para muita gente este seja o procedimento habitual. Isto nada tem de sofisticado. É o sedentarismo dos tempos modernos.

Ainda assim, mérito para Zuckerberg que percebeu bem a coisa.

 

 

A imagem lá de cima é do Jonas por sugestão minha e da outra.

13
Mai10

Virtualidade real

jorge c.

Algo está podre no reino da internet. Não é de hoje, é certo. Os blogs, ou melhor, as caixas de comentários dos blogs já eram um espectáculo bonito de se ver. Mas, agora, com o crescimento das redes sociais e a facilidade de interagir e criar posts, uma realidade escondida manifesta-se de forma algo assustadora e alarmante. They're out there.

 

Tomemos de exemplo o Facebook, a rede social mais utilizada nos dias de hoje. Não é só a estranha ideia de fazer amigos ou misturar na mesma página pessoas do nosso meio familiar com pessoas do nosso meio profissional, não é só a exposição da nossa intimidade que reside no pormenor do comentário de um amigo visível a todos, nem a doença das vacas e dos morangos. Acima de tudo, o que mais preocupa no Facebook não é esse voyeurismo ou futilidade de comunicação, mas sim a demonstração de ignorância e a dimensão da demagogia social face à política.

 

Falamos de uma rede social onde todos os dias surgem centenas de grupos a que nos podemos juntar: o grupo de pessoas que odeiam Sócrates, o grupo de pessoas que ama Sócrates, o grupo de pessoas que quer a prisão imediata de Pacheco Pereira, o grupo de pessoas que gosta de criar grupos de pessoas, o grupo de portugueses que foi a IX Grande Feira Mundial, o grupo de pessoas que gosta de coçar a perna esquerda, o grupo de pessoas que odeia, que quer, que exige, que não admite, que mata e que esfola. Enfim, um conjunto de cidadãos, a grande parte maior de idade, que revela excesso de tempo e uma total falta de bom senso. A demagogia que sai desses grupos é tal que uma grande percentagem destas pessoas informa-se das situações a partir do Facebook. Veja-se o caso recente de Inês de Medeiros ou do Papa. A ignorância, o mais perfeito desconhecimento dos factos e o comportamento acéfalo das massas encontra aqui a sua maior montra de sempre.

 

Há uns meses, a propósito das eleições, criei com meia-dúzia de delinquentes, perfeitamente identificados aqui, um blog para o efeito, e a certa altura criou-se um desses grupos que ironizava uma situação em particular com uma protagonista de uma das campanhas. A piada durou dois dias, ou nem isso. Durou o tempo de começarem os comentários de ódio contra a pessoa em causa e até um jornal tomar o motivo do grupo como sério e fazer disso rodapé de primeira página. O disparate foi tanto que até por caixa de comentários nos quiseram entrevistar.

 

Com a sua falta de iniciativa e incapacidade de cidadania, muita gente encontrou nestes meios a forma de projectar as suas mais íntimas castrações. O uso dado às redes sociais deixou de ter a utilidade inicialmente pretendida e transformou-se num centro de loucura virtual. A difamação e a injúria e a inconsciência do efeito que o que se diz pode ter reinam. Os media, na sua habitual ignorância das novas ferramentas, começaram a apanhar tudo o que caía na rede sem colocar limites. É um espelho assustador do que anda por este país.

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