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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

31
Mar13

ADIDAS (all day i dream about sócrates)

jorge c.

É-me dificil entender como é que um indivíduo de características tão banais como José Sócrates gera a bipolarização a que temos assistido, de amor/ódio. Dir-se-ia que, se o ridículo pagasse imposto, a dívida estava paga, pelos seus seguidores fanáticos e pelos seus detratores fanáticos. Foi esta a maior fonte do mediatismo da entrevista a José Sócrates: a histeria colectiva.

Sócrates disse alguma coisa de novo? Sócrates sugeriu algo de novo? Não. Sócrates foi entrevistado por dois jornalistas mal preparados, sobre a sua governação. O que mudou desde então? Um governo que foi eleito ao estilo Canção do Engate: "porque eu sou melhor que nada". Acontece que o facto deste governo ser mau, não iliba o seu antecessor, ou seja, José Sócrates & Co. LDA.

O que tornou a entrevista a seu favor foi, como disse, uma dupla de jornalistas mal preparados, mal informados e baseados em mitos. Aliás, o tom das críticas a Sócrates tem sempre esta patetice de se basear em mitos. Ora, quando os mitos são confrontados com factos, é uma chatice. E é claro que  no confronto entre investimento público/ cortes, numa altura em que as pessoas vêem desaparecer muitas conquistas da sua democracia, o discurso de Sócrates até parece um bálsamo, não fosse o cavalheiro ter estado 6 anos como Primeiro-Ministro a dar-nos com lâminas na cara.

O que vimos na entrevista foi o dramatismo habitual de Sócrates, uma lavagem de roupa suja (merecida, talvez, mas que eu não esperava) medonha e a desresponsabilização total. Perdão, houve sim aquele momento em que Sócrates disse que tinha errado por ter aceitado governar sem maioria absoluta. Por pouco não me comovia.

Visto que durante esta semana fomos autorizados a falar de Sócrates, restam-me umas breves impressões. 

Sócrates justifica a sua estratégia governativa a partir de cada momento internacional. Primeiro porque, depois do Subprime, a Europa apostou no investimento para consumo interno. O governo achou óptimo, mas não ouviu aqueles que avisavam sobre o perigo de endividamento. Com a crise das dívidas soberanas, o Governo lá entendeu, e Sócrates gritava todos os dias "isto é uma crise internacional", como se isso ajudasse nalguma coisa e não fosse necessário intervir. Nas elaborações que se sucederam, tanto do orçamento, como do PEC, o Governo falhava consecutivamente. Até que chegámos ao PEC IV, numa altura em que o PSD já era dominado por gente sem sentido de Estado e o ódio a Sócrates era geral.

Sendo um documento de enorme relevância no contexto da soberania, e apesar de não ser obrigado a tal, era de bom tom Sócrates ter partilhado a porposta do PEC IV. Não o fez. Sobre este plano, chegou a dizer (e repetiu na entrevista) que a única matéria relevante era o regime de pensões. Todos sabemos, hoje, que não era só e que mais austeridade se avistava. Sócrates nunca o quis admitir. Acredito, até, que viveu sempre numa ilusão que, a cada passo, se afastava mais da realidade europeia. O político determinado e convicto nunca percebeu que liderar um país é ser, também, lúcido.

A liderança também se faz notar pela forma como envolvemos todas as pessoas, Sócrates afastou uma boa parte delas, alimentando guerras, ódios e rupturas. Na entrevista à RTP utilizou mesmo a expressão "eesa gente". Tem um desprezo inacreditável por aqueles que discordam de si. Ao seu lado, nunca teve ninguém capaz de lhe dizer que um Primeiro-ministro não governa nem comunica apenas para o seu nicho de apoio. A generalização "a direita" também foi interessante. A demagogia é uma forma de reforçar a fidelização dos seguidores.

Sócrates está igual. Eu também. Continuo a acreditar que a determinação, a convicção e a assertividade não fazem de um homem um bom político. Aquilo que melhor define um político é ele decidir no momento certo com genuinidade e preocupação. Para o bem de todos nós, não coloquem a fasquia tão baixa.

27
Abr11

A chantagem, a dúvida e o raio que os parta

jorge c.

Com os disparates consecutivos que o PSD anda a fazer, nem nos dá tempo para dizer mal do PS. Eu adoro desporto e entre correr 7 km's ou dizer mal do Partido Socialista fico sempre indeciso. E há muito espaço, atenção! O PS é o partido mais escorregadio de sempre da política portuguesa. Até o O'Neill sabia isso. E vocês também sabem, que eu sei. Nunca confiar num partido socialista cujos governos foram os que mais privatizaram em Portugal. É estranho. Ainda assim, e estando a par da malabarice nas entranhas do Rato, a malta ainda o defende porque - convenhamos, por amor de Deus - é o verdadeiro partido da esquerda democrática e republicana e séria e responsável e cuidado com o papão que ataca no armário a partir das duas, qual raparigas do Conde Redondo.

O descaramento dos socialistas a tratar as incoerências dos outros é fascinante. Sobe-se o tom, dramatiza-se um erro e está a tenda armada para o circo. Uma muito óbvia nos dias que correm é a da falta de programa. Isto como se o PS tivesse aí uma extensa proposta de resolução nacional que não a conversa de saco que apresentou em 2009 e que manifestamente não é uma alternativa à situação actual nem tão-pouco tem força revigorada para vingar a sua credibilidade. É que uma coisa é a irresponsabilidade de provocar eleições num período de ataques à credibilidade financeira do país e em que era preciso uma demonstração da força soberana, e outra completamente diferente é a sustentabilidade governativa de um executivo sem soluções e gerador de desconfiança institucional. O PS não se pode esquecer que, mais cedo ou mais tarde, o Governo caía. E caía bem. Era tudo uma questão de compassos mais oportunos.

No entanto, como se nada se passasse e estes tivessem sido os melhores 5 anos das nossas vidas, como aliás se viu naquela demonstração de culto ao Chefe no congresso socialista sem uma linha divergente, sem autocrítica, aí está o PS e os seus apoiantes independentes e imparciais a tentar convencer a populaça que se o PSD ganha é o fim do Estado Social. Ora, se para fazer uma alteração à CRP é quase preciso um tipo dar a mãe e o pai de penhor, era agora o PSD que ia acabar com o Estado Social só porque sim, porque lhes apetece. É preciso um descaramento que nem Iago teve na diabolização do Mouro. Outros Otelos, a mesma dúvida instalada.

Em rigor, estamos a assistir à mais vil chantagem psicológica feita por um partido em democracia: ou nós ou o fim. Este mesmo discurso repetido como um mantra - qual União Nacional!

E valerá a pena continuar a confiar neste discurso do PS? Não é só de Sócrates, é do PS, porque quem alinha em tudo não deixa de ser cúmplice desta aldrabice.

 

16
Mar11

Caprichos

jorge c.

Corre por aí um movimento entre bloggers intitulado "Já basta!" (por momentos pensei que fosse espanhol) que quer a demissão ou exoneração imediata do governo. Há muitas coisas neste movimento que não fazem sentido, a começar por alguns destes bloggers serem conservadores e, por isso, promover a incerteza em relação a um futuro imediato é paradoxal.

O que move este grupo de bloggers? A queda imediata de Sócrates ou a chegada ao poder? Podem ser questões distintas, tanto que muitos deles não são apoiantes de Passos Coelho. Mas tanto uma como a outra parecem requerer alguma reflexão para se perceber o paradoxo.

A queda de Sócrates, para a maioria dos bloggers que o pretende, pressupõe também a derrota dos "Abrantes", a derrota da "namoradinha" e dos restantes jugulosos. É muito importante compreender que o que está aqui em causa não são motivações políticas, mas um mau-estar social provocado por aquilo a que na melhor doutrina chamamos "excesso de tempo livre". A melhor solução para isto é pedir encarecidamente que as pessoas tenham juízo e deixem de estar tão preocupadas com a vida dos outros.

A segunda questão - a chegada ao poder - é mais complexa e mais séria. Como diz aqui o Pedro Marques Lopes, não se pense que é por haver agitação social e descontentamento nas ruas que se vencem eleições. Chegar ao poder exige muita confiança por parte do eleitorado. O que temos assistido é que uma parte substancial do eleitorado não está muito confiante em nenhum dos partidos com tendência de poder. Logo, é algo que não só tem de ser trabalhado como conquistado. E trabalhar a confiança do eleitorado significa ser coerente, sério e objectivo.

Não se entenda isto como uma confrontação. Eu sei que é mais fácil chamar-me idiota útil do que pensar sobre o assunto. Mas acho que vale a pena parar um bocadinho, descontrair e pensar que o país não é um capricho nosso.

15
Mar11

Erros processuais

jorge c.

Uma das coisas que José Sócrates não percebeu antes de subir ao púlpito, ontem, foi que o processo não é fazer o rascunho das medidas com os parceiros europeus para o apresentar aos portugueses a seguir, mas sim o inverso. O Povo é um elemento do Estado, o governo não.

20
Jan11

Figadeira

jorge c.

Sócrates: um Presidente não deve falar em crises políticas.

 

Não foi o único a referir-se ao tema nestes termos. Tal como Sócrates, há uma certa mentalidade que parece não compreender muito bem as funções da Presidência ou só as compreende quando é conveniente. À conveniência em matéria de princípios chamamos relativismo - uma velha tradição francesa da qual o socialismo europeu é particularmente fã. Ou refém.

Mas, regressemos ao tema e ao argumento falacioso. O Presidente da República pode e deve falar em crises políticas, principalmente quando elas estão latentes e a objectividade e a segurança institucionais são demasiado importantes para que o Estado não caia em desgoverno. Há crises políticas bem mais graves do que a dissolução da Assembleia da República.

Assim, compete ao Presidente da República mostrar que não se demitirá das suas responsabilidades num cenário de crise política (que pela Europa fora parece ser uma realidade cada vez mais presente) e ao mesmo tempo tentar evitar que ela aconteça cooperando com o Governo para o interesse nacional. Ora, se o Governo não se mostrar cooperante para o interesse nacional e tiver uma narrativa diferente do resto do país, é natural que nessa altura o PR actue em conformidade. Parece-me uma realidade política mais do que óbvia e legítima.

Tentar evitar uma crise política e saber o que fazer no caso dela se tornar inevitável não são dois discursos desconexos e incongruentes. Muito pelo contrário, são o mesmo discurso - o da responsabilidade e do conhecimento das funções da Presidência.

 

Agora sim, estou a fazer campanha e a falar de matéria eleitoral.

16
Out10

Estamos todos tão cansados

jorge c.

É a maior trapalhada orçamental dos últimos 25 anos, certamente. Depois de 5 anos a convencer o país que o programa do PS era um tratado de progresso, Sócrates conseguiu desresponsabilizar-se da sua ilusão, convencer uma série de pessoas de que isso está correcto e ainda colocar o ónus da responsabilidade na oposição. É, de facto, a maior aberração política dos últimos 25 anos, certamente.

Depois de centenas e centenas de avisos sobre o risco de endividamento, depois de centenas e centenas de avisos sobre o risco de um défice excessivo, depois de centenas e centenas de avisos sobre a fragilidade do investimento, aí está o Orçamento de Estado a fazer os contribuintes pagarem a cegueira e a arrogância do Governo de José Sócrates.

Perdão, estarei certamente a atacar pessoalmente os elementos do Governo e a ser demagógico. Claro. 5 anos nisto. Estamos todos tão cansados.

02
Out10

Orgulho e determinação

jorge c.

Um dos argumentos favoritos dos socratistas durante este período de Governo socialista era o de que Sócrates era determinado. Várias vezes repeti que a determinação não era um programa político. E como crianças convencidas que os adultos só querem chatear, alguns amigos meus olhavam para o lado como quem diz "está bem, abelha". Agora andam aí, enrascados com argumentos rebuscados. É um espectáculo deprimente.

25
Set10

O impasse

jorge c.

José Sócrates é um homem desgastado. Aflito por não querer governar por duodécimos depende do PSD e de Passos Coelho. Por sua vez, o social-democrata está desejoso para ficar por cima e triunfar nas negociações. Para já, PPC age da mesma forma que agiu com Ferreira Leite: aceita a sua posição, diz não ter pressa de chegar ao poder, mas assim que pode mina o caminho com o seu jeito dissimulado.

Para o Primeiro-ministro governar sem poder exibir o seu reflexo não deve ser uma opção. Já sabíamos que Sócrates era um político menor com um ego grande, mas julgo que ninguém acreditou que se deixasse enfraquecer tão depressa. Portanto, o Chefe de Governo vive agora o impasse que também está a ser provocado pela Presidência e a redução dos poderes do Presidente devido às eleições que se aproximam.

No meio do bailarico, o cidadão comum não sabe o que há-de pensar e está naturalmente preocupado. De um lado dá-se a ideia de que o governo socialista esconde uma realidade negra e que estamos à beira do abismo. Do outro, fala-se numa conspiração contra Sócrates.

Para o staff e pseudo-staff dos partidos parece estar tudo bem na cavaqueira do costume de ataques pessoais e na desconversa do "olha que não sôtor, olhe que não". Contentes na sua posição de palermas, os aparelhistas de um lado e do outro divertem-se como se estivéssemos numa Batalha Naval, convencidos de que estão a salvar o país através de propaganda e contra-propaganda.

O impasse do Primeiro-ministro é, por isso mesmo, o nosso. Sócrates é o Primeiro-ministro e se calhar não seria mauzinho de todo, no meio daquilo que se anda a passar, que aparecesse só para dar um olá às tropas. Não sei se isto é pedir demais.

16
Jul10

Crise interna

jorge c.

Apesar de não ter dados concretos, a realidade a que tenho acesso pode servir de exemplo. Empresas de amigos a fechar, amigos desempregados, processos judiciais até ao tecto por causa de créditos, insolvências e por aí fora. Esta conjuntura, nos seus meandros, não é apenas fruto de uma crise internacional. Parte destes problemas teriam sido resolvidos com diferentes políticas e muita gente poderia estar a enfrentar a crise internacional com outra capacidade. Dizer que está tudo bem e que, no fundo, Sócrates é o maior e só não salvou isto por culpa de terceiros, é gozar com estas pessoas. Ou então é não sair muito à rua. O que em muita gente se torna evidente.

04
Jul10

Má gente

jorge c.

Continuemos a recordar Sócrates como ele é para evitarmos ao máximo que pessoas como ele cheguem, de novo, ao poder. Todas as histórias por explicar são senão a prova concreta de que a falta de carácter político tem consequências práticas. E esta circunstância da apresentação do livro de Maria de Lurdes traz essa mensagem no bico. Uma mensagem simples que quer apenas dizer "nós continuamos a acreditar neste disparate e só mudámos de ideias para não perder eleições".

Portanto, é muito agradável quando o eleitor - qual cliente enganado na feira - percebe que o grande ímpeto reformista e corajoso desaparece, mesmo depois de uma atitude intransigente que gerou um desconforto social profundo. O que realmente importa é não perder a figura. Hoje diz-se uma coisa, amanhã outra. Deixou de valer a convicção e a política é agora um jogo de votos em que se ganha e se perde. Má gente.

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