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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

16
Out13

o partido único de josé sócrates

jorge c.

A mitomania é uma característica de muitos políticos. E isto não tem de ser um problema. A não ser, claro, quando ganha traços de alucinação.

Numa entrevista a José Sócrates, que o Expresso publicará, o antigo Primeiro-ministro diz (e tentem não desatar logo à gargalhada) que é o "chefe democrático que a direita sempre quis ter". O riso é inevitável, bem sei. Mas esta afirmação de Sócrates revela muito da natureza de uma parte significativa dos socialistas. 

Por um lado, são a esquerda democrática, por outro o que a direita queria. Percebe-se bem a motivação de partido único em democracia que o PS tem. À semelhança da governação de Sócrates ou Guterres, o próprio partido vai passando entre as gotas da chuva a tal velocidade que acaba por tornar-se dominador do espaço ideológico. E é aqui que nasce o tenebroso sectarismo do Largo do Rato - o partido daqueles que são bons e justos e únicos. Todos os outros são uns cretinos de direita ou uns irresponsáveis de extrema esquerda. E apenas há lugar no seu reino para aqueles que com eles concordam. É uma doença sem limites que gera a sua atracção a partir do Largo do Rato, aproveitando aquela arroganciazinha urbana da capital.

Sócrates cresce politicamente neste contexto. Pelo que não é de estranhar que se ache um "chefe democrático", um líder, como um facho que alumia. Esta teoria pega naqueles que olham para o PS como o único partido credível em democracia. Não pega com mais ninguém, felizmente. 

 

(Já sabemos que escrever sobre José Sócrates implica sempre um conjunto de observações: a insídia, o ataque pessoal, a culpa é sempre do sócrates, etc., uma maçada de uma conversa que temos de aturar porque há gente que lida mal com a crítica. É a vida.)

19
Set11

O embaraço

jorge c.

A dívida da Madeira está a causar um embaraço dentro do PSD. Acontece que o embaraço suscitou uma reacção pouco nobre e paradoxal: a relativização.

Não podemos, de modo algum, andar durante 6 anos a apontar o dedo por causa de uma relativização politicamente prejudicial e pouco transparente para, depois, cair no mesmo erro. Para além da falta de imaginação é, também, falta de consciência crítica. Esta parece ser a doença dos tempos que correm.

14
Ago11

History Repeating

jorge c.

Aquando das eleições, previ que uma inversão de papeis no poder, entre as claques, seria um dos factos mais cómicos da alteração governativa. Ora, é vê-los. É de perguntar: como é que é possível? Como é que se consegue virar o discurso do avesso, com as costuras a verem-se, sem pestanejar, com o maior dos descaramentos, e chamar a isso "combate político"? É incompreensível. Ver amigos a sujeitarem-se a esse papel, quando os respeitamos e nos dispomos a discutir com eles por acreditar que vale a pena, é ainda mais constrangedor.

Mas, este desabafo não se perde no desgaste da desilusão. Há algo mais importante que esta tontice do descaramento sectário. A presença de um governo à direita levanta sempre uma nuvem de pó que roça a falta de bom senso. Temos (plural majestático) chamado a isso a diabolização da direita. Vem aí o grande monstro que vai acabar com o Estado Social. Ora, o Estado Social não é uma coisa estanque. Diz-se isto como se o Estado Social fosse a democracia em si e por si. Sejamos mais objectivos e focados: defendemos uma democracia, logo, o seguimento das políticas governativas não é um ataque a nada. O Estado Social tornou-se o dogma do séc. XXI. É escusado apelidar as pessoas de salazarentas só por causa disso. Parece-me excessivo, sei lá. Infantil, diria.

Por outro lado, a concentração da austeridade (que é assim que agora se chama ao artist previously known as "medidas impopulares") no cidadão de bem, comum, de bom aspecto, não é uma boa causa para reduzir gorduras, como se diz por aí. Se o Estado é gordo, façam-lhe um programa de emagrecimento com exercício e não lhe ponham uma banda gástrica.

Este período que iremos viver nos próximos tempos será insuportável. A austeridade sentir-se-á menos do que a histeria. Não contem comigo.

22
Jun11

Ah! os independentes, os independentes!

jorge c.

Como quase em tudo, nunca usamos da adequação quando nos colocamos numa postura crítica sobre o que quer que seja. Com os independentes a história repete-se. Por um lado há os que acham que a política deveria ter mais independentes, em contraponto a esses bandidos dos políticos. Por outro, temos os que acreditam que só alguém com um certificado de habilitações políticas pode ser parte integrante do regime político-partidário.

Ser independente em política não é uma característica, por si só, positiva ou negativa. As pessoas, no geral e em abstracto, ou têm capacidades políticas ou não têm. Ser independente significa apenas que não se tem uma ligação partidária formalizada. Isto não é bom, nem é mau. Acontece que há pessoas que não querem ter essa ligação. É um direito que lhes assiste. Contudo, dispõem-se a exercer cargos políticos porque, em rigor, têm capacidades que operam nesse sentido. Ou pelo menos, supõe-se que têm. Porque não faz qualquer sentido alguém que não tenha uma dimensão política exercer um cargo que é, por natureza, político.

A conversa dos independentes, no sentido positivo, tem o toque da demagogia, da preponderância popular. Já no seu sentido mais negativo, ela ganha contornos de sectarismo e de clausura partidária. Ora, isto não faz qualquer sentido. A actividade política exige características que têm que ver em exclusivo com a sua natureza, não obstante os seus actores não terem obrigatoriamente de estar vinculados a um partido. Seria simples compreender, não fosse a má vontade.

17
Jun11

Antes de o ser já o era

jorge c.

Há, neste momento, algo que me interessa mais observar na formação do novo governo do que a qualidade ou o falhanço total do colégio. É precisamente estes juízos que me atraem mais. Através deles conseguimos perceber mais o sectarismo e entender que dele nada de bom nasce.

Tenho uma teoria que só conseguimos ter uma noção exacta das consequências políticas da formação de um governo um ano e meio depois do seu início de funções. Dois, no máximo. É difícil fazer uma avaliação clara e objectiva num curto período de tempo. Como tal, qualquer juízo que seja feito nesta altura é prematuro e revela apenas o desinteresse que existe pela conformação governamental. A guerra está única e exclusivamente nas personalidades e na camisola que vestem. Isto poderá ter, efectivamente, uma relevância no campo ideológico. Mas, na verdade um governo é essencialmente a execução das suas políticas, a conformação executiva, sendo que isso depende muito da tendência dos tempos. Daí que em política a incoerência possa ser, de certo modo, desvalorizada (umas vezes para bem, outras tantas muito pelo contrário).

Reagir a quente à formação de um governo não revela muito mais do que o desinteresse pelas questões da política e da sua natureza e uma preponderância do interesse egoísta e fútil. É isso que é o sectarismo. Vamos sempre a tempo de mudar.

17
Mar11

Uma dedicação sem sentido

jorge c.

Tirei o dia para o fervor socialista.

Passos Coelho foi hoje a Belém pedir ao Presidente da República que actue perante a crise política instalada. É um facto: temos uma crise política. E por quem é que ela foi levantada? Terá sido pelo Bloco de Esquerda e a sua moção de censura? É evidente que não. Todos os partidos democráticos perceberam que a moção do Bloco não era séria e era até despropositada. Não havia dados efectivos da execução orçamental, nem nada de grave que comprometesse o governo. Terá sido do PSD? Também parece que não. O PSD tem ajudado o governo a segurar o barco com o orçamento, ajudou a chumbar a moção de censura, enfim... não é por aí. Acho que ninguém acredita que o PCP e o CDS pudessem ter alguma coisa a ver com isto.

Então, o que é que aconteceu?

Na Sexta-feira passada, o Primeiro-ministro antecipou um pacote de medidas que deveriam ser apresentadas em Abril. Até aqui tudo bem. É suposto fazermos esforços para transmitir confiança aos parceiros europeus. Acontece que Sócrates fê-lo primeiro às instituições europeias e não aos portugueses como seria de esperar. O compromisso do governo é, em primeiro lugar, com os cidadãos e só depois com as instâncias europeias. Esta omissão, numa altura em que o governo é tão contestado, é algo que cria ainda mais desconfiança.

Portanto, com esta lógica temporal de acontecimentos é natural que o PSD ou qualquer outro partido da oposição transmita ao PR a sua convicção de que o governo não tem condições para continuar. Achar que isto é incoerência por causa de uma moção de censura que antecedeu uma série de factos demasiado relevantes é estar a fazer um joguete partidário a ver se cola. É estar a preparar eleições antecipadas antes mesmo de cair. É um discurso político muito dedicado ao partido, mas pouco dedicado à política.

Já disse aqui várias vezes que não estou certo de que uma dissolução imediata da Assembleia da República possa ser benéfica para a nossa imagem no exterior, num momento em que a nossa capacidade de recuperar é posta em causa por entidades das quais dependemos. No entanto, não posso deixar de aceitar que a oposição o faça. Há motivos mais do que suficientes para tal.

17
Mar11

Os pais da democracia

jorge c.

Desde o 25 de Novembro que a esquerda combate a direita pela moralidade. Se é bem verdade que a direita em Portugal usou sempre um tom moralista que acaba inevitavelmente em hipocrisia, não é menos verdade que vasculhar os caixotes do lixo à procura dos restos do jantar para provar alguma coisa não é necessariamente a melhor atitude.

Saudosos são os tempos em que a esquerda progressista e de vanguarda, na voz da mãe da democracia, fazia declarações sobre o escândalo que era o Primeiro-ministro de então, Francisco Sá Carneiro, viver amantizado com uma estrangeira devassa. Na altura a fractura era outra.

Mas, hoje, a esquerda (no geral e em abstracto) continua com a mesma tendência controleira, seguindo a sua própria profecia de que a direita não é apenas um adversário ideológico mas um cancro que tem de ser removido. Esta ideia está bem vincada até nos mais moderados. E para confirmar a sua profecia, qualquer movimento é suspeito, duvidoso ou revelador. Sonham com um cavaquistão, mas ignoram o guterristão que deixou marcas por dezenas de instituições. Aceitam o enxovalho da corja cavaquista mas dão o peito às balas disparadas contra a corja guterrista. Não é uma questão de princípio, é uma questão de trincheira.

Já aqui falei muitas vezes deste assunto e de como a mesquinhez é recíproca. Mas hoje passou uma frase por mim que me chateou. Uma frase controleira de alguém que se julga moralmente acima de todos, de alguém que de um modo manifestamente snob julga que vai revelar a verdade ao povo e manter a memória sempre viva, quando no seu logradouro escorre a merda da sua própria fossa. Não é hipocrisia, é burrice.

 

19
Jan11

Impressões de uma campanha VI - epílogo

jorge c.

Fico com a ideia de que a maioria das pessoas tem algum desinteresse pela campanha eleitoral. Só pelas redes sociais é que há um surto forçado de campanha e que tem como foco principal Cavaco Silva. Julgo que se tratará mais de um facto do que de uma percepção exclusivamente minha.

Com um cenário destes, o meio dos que gostam de debater a política está um pouco condenado a cair no erro dos casos laterais e dos soundbites sem conteúdo ou enganadores. Poderá ser este um dos motivos para o desinteresse dos cidadãos em geral? Eu julgo que sim. Não porque as pessoas tenham necessariamente consciência do fraco grau de debate, mas sim porque deixam de compreender a necessidade da política nas suas vidas por falta de esclarecimento.

Ora, se os media tradicionais optam pelo lado da campanha menos relevante para o país (reflexo do que os candidatos transmitem), deveria caber aos comentadores, aos bloggers e aos milhares de pessoas espalhadas pelas redes sociais uma discussão mais profunda porque são estes os que a mais informação têm acesso. Limitarem-se a reproduzir soundbites das assessorias dos candidatos e dos partidos é um sinal evidente do falhanço do debate democrático.

Acima de tudo, estamos perante uma falta de juízo crítico provocada pelo sectarismo e pela propaganda. Alimentam-se expressões-chave ou casos sem uma acusação em concreto, levantando suspeitas sobre as pessoas, e ignora-se a substância política de cada candidatura. Para que serve a Presidência da República? Quais os seus poderes e funções? Não, nada disso. É preferível discutir a insignificância de um artigo matricial numa escritura pública (sem saber ao certo do que se está a falar, mas levanta-se sempre a suspeita), o passado extremista do candidato ou se é o partido A ou B que dá ou não dá apoio, e por aí fora. A desculpa é o escrutínio do carácter dos políticos. Já comi pior e não paguei.

Dizem que os soundbites resultam, porque as pessoas não querem conteúdos. Eu muito gostava de saber quem é que lhes passou procuração sobre o que os eleitores querem ou não. Os eleitores não são estúpidos e a culpa do regime não é deles. Responsabilizar o povo, em abstracto, pelo resultado das suas opções é desresponsabilizar os políticos da sua vertente pedagógica e honestidade intelectual. Conhecemos muitos instrumentos para fugir a essa responsabilidade: o populismo, a demagogia, a propaganda, etc.

A repetição do discurso vazio das candidaturas por pessoas informadas, por puro sectarismo, é que vai, então, revelar essa falta de juízo crítico e incapacidade de pensar e promover a política como um bem comum e não como um projecto egoístico que não olha a meios para atingir fins. Compete-nos ser exigentes com o debate político e não nos conformarmos com o caminho que cada vez mais ele toma.

13
Jan11

Impressões de uma campanha IV

jorge c.

Em Batman Begins há uma parte curiosa em que um determinado gás é lançado através das condutas e esgotos, e toda a população fica a alucinar com manias persecutórias.

A campanha eleitoral em Portugal toma sempre uns contornos parecidos. A certa altura parece que anda meio país a alucinar com interpretações macabras do que os candidatos dizem, com histórias de passados duvidosos trazidas à baila sabe-se lá bem porquê... Enfim, um conjunto de tonterias. A verdade é que, como eu disse ontem, esta alucinação colectiva conduz a trocas de insultos que nada têm que ver com o debate político, mas que fazem apenas parte de uma péssima cultura democrática onde o nosso lado é o do bem e o outro o do mal. É exactamente a partir deste maniqueísmo que o debate político desaparece e ninguém fica esclarecido sobre nada.

Este é o meu grande problema com o sectarismo. Não posso aceitar que o debate e o esclarecimento se limitem a problemas dermatológicos dos que vestem a camisolinha e promovem o ruído a tema central das campanhas. A blogosfera e as outras redes sociais poderiam ser a grande excepção, pois são locais de debate privilegiados. Ao invés, faz-se bem pior. É só lamentável.

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