jorge c.
O patusco Slavoj Žižek lá regressou com a sua habitual evangelização carregadinha de manipulação intelectual e preconceitos. Eu acho piada a Žižek, mas não posso deixar de notar esta sua tendência para a manipulação através de um discurso todo fixolas que a malta curte, tipo ya. Ora, como eu não curto, tipo ya, que a malta curta, tipo ya, achei por bem demonstrar como a ideia de fundo, de boa-fé, não é má de todo, mas o raciocínio e a justificação são absolutamente falsos. Isto não é uma discussão filosófica, por amor de Deus! Isto tem a ver com factualidade.
Portanto, diz-nos o nosso camarada: "Vamos lá romper o impasse da dicotomia entre liberais anémicos e extremistas". Porreiro. Por mim tudo bem. Mas, se formos lendo vemos que o único problema que Žižek tem é com os liberais-conservadores (suposição minha). É estranho, não é? Os extremistas até são capazes de se adaptar, os liberais é que andam a empatar isto tudo.
Mais à frente, como não poderia deixar de ser, vem a entrada a pés juntos a Cristo. O pobre desgraçado morre na cruz para a redenção dos pecados da rapaziada toda, mas ainda assim ele acha que o escandaloso Jesus só queria malta da dele. Claro. Todos nós sabemos que a teleologia cristã é promover o ódio. Eu julgava que a confusão entre a base do cristianismo e as atitudes da Igreja Católica tinha desaparecido no início do Séc. XX. Mas pelos vistos, ainda há quem use a mesma técnica usada pelos jacobinos do início do século. Ya, como está de se ver.
Aproveitando o facto de estar com a mão na massa, vamos lá falar dos conservadores, misturando com os liberais de forma a parecer que está tudo enfiado no mesmo saco. A malta da JCP normalmente não repara, e pelo que vejo, a do Bloco também não, tal é a ansiedade de concordar com o mestre. Estou a ser preconceituoso? Estou, porque eles merecem. Não sejam carneirinhos e a gente conversa. Até lá: aguenta, rapaz! (Esta referência ao Mário-Henrique Leiria foi só para competir com a do Chesterton para mostrar que nós também lemos cenas e assim).
Portanto, para o Žižek o facto dos conservadores insistirem "que cada Estado se baseia num espaço cultural predominante, que deve ser respeitado pelos membros de outras culturas habitando no mesmo espaço", significa automaticamente que se vão silenciar em relação ao racismo e perder a autocrítica. Claro, é uma lógica fortíssima. Como é que eu nunca pensei nisto? Ou seja, i conservador, que desejo que a minha comunidade se mantenha inalterada na sua estrutura, na sua cultura, através de um desenvolvimento sustentável de todas as suas premissas, serei um racista por negligência. Certíssimo quanto a honestidade intelectual e compreensão de posições ideológicas diferentes.
É claro que eu acredito numa sociedade integradora e que dê espaço ao outro: na sua religião, na sua cultura, no seu quotidiano. Todos os dias faço concessões. É esta a minha forma, e a de muitas outras pessoas, de aceitar uma Europa mais sofisticada e democraticamente madura. Mas é isso mesmo, eu faço concessões. Slavoj Žižek não faz. Para ele, o problema reside apenas num dos lados de uma barricada que ele continua a alimentar para beneficiar a sua narrativa ideológica. É um discurso radical que se manifesta na imposição das ideias a partir de manipulação preconceituosa. Em democracia, o espaço do diálogo não deve estar só limitado aos que concordam connosco. Ora, quando se atirou a Cristo, Žižek estava a projectar.