Dos seus amores tão delicados
Numa lógica mais ou menos de caos aparente, mas muito organizado, lá seguem pela noite fora em filinha no alto do Bairro para atacar a noite. O Bairro já foi albergue da mais velha profissão do mundo - o eufemismo para casas de putas que eu tinha aqui mais à mão. Sem qualquer transição e acompanhamento passou a ser a zona lúdica da cidade à noite - outra espécie de divertimento nocturno que não o anterior. Guarda ainda a sua fotografia dos 80's onde alguns ficaram sem regresso previsto. Viveu muito da nostalgia, mas hoje a sua realidade tem uma nova linguagem. Com algumas mercearias espalhadas pelo labirinto de ruas, a moda do botellón parece ter pegado definitivamente. A circulação aumentou e a desfiguração das áreas destinadas a determinados grupos também. Os bares têm menos gente lá dentro (não só por isso, mas muito pelas políticas de fumo) e tentam fazer chegar a música cá fora. É a confusão total. À volta vão nascendo uma série de condomínios caros. A descaracterização do Bairro Alto é agora mais evidente. Mesmo assim, não parece haver uma política que resolva o problema de identidade do Bairro que se reflecte na forma como as pessoas se comportam socialmente. O Bairro tem habitantes que não terão uma vida fácil: barulho, lixo, bebedeiras problemáticas e o cheiro disso tudo de manhã. Muitas destas pessoas nunca tiveram grande escolha. Do divertimento antigo para o actual não houve uma transição equilibrada. O caminho dissimulado para habitar aquela colina com uma suposta elite, através de condomínios e hotéis, poderá não ser a melhor solução. Porque essa dissimulação entra em choque com o factor cultural na relação das pessoas com a cidade. Isto é um imbróglio. Mas não parece haver ninguém com grande preocupação em encará-lo com lucidez.