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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

14
Fev11

Dos seus amores tão delicados

jorge c.

Numa lógica mais ou menos de caos aparente, mas muito organizado, lá seguem pela noite fora em filinha no alto do Bairro para atacar a noite. O Bairro já foi albergue da mais velha profissão do mundo - o eufemismo para casas de putas que eu tinha aqui mais à mão. Sem qualquer transição e acompanhamento passou a ser a zona lúdica da cidade à noite - outra espécie de divertimento nocturno que não o anterior. Guarda ainda a sua fotografia dos 80's onde alguns ficaram sem regresso previsto. Viveu muito da nostalgia, mas hoje a sua realidade tem uma nova linguagem. Com algumas mercearias espalhadas pelo labirinto de ruas, a moda do botellón parece ter pegado definitivamente. A circulação aumentou e a desfiguração das áreas destinadas a determinados grupos também. Os bares têm menos gente lá dentro (não só por isso, mas muito pelas políticas de fumo) e tentam fazer chegar a música cá fora. É a confusão total. À volta vão nascendo uma série de condomínios caros. A descaracterização do Bairro Alto é agora mais evidente. Mesmo assim, não parece haver uma política que resolva o problema de identidade do Bairro que se reflecte na forma como as pessoas se comportam socialmente. O Bairro tem habitantes que não terão uma vida fácil: barulho, lixo, bebedeiras problemáticas e o cheiro disso tudo de manhã. Muitas destas pessoas nunca tiveram grande escolha. Do divertimento antigo para o actual não houve uma transição equilibrada. O caminho dissimulado para habitar aquela colina com uma suposta elite, através de condomínios e hotéis, poderá não ser a melhor solução. Porque essa dissimulação entra em choque com o factor cultural na relação das pessoas com a cidade. Isto é um imbróglio. Mas não parece haver ninguém com grande preocupação em encará-lo com lucidez.

30
Abr10

cais do sodré

jorge c.

O Cais do Sodré é um dos lugares mais verdadeiros de Lisboa, talvez pelo seu realismo, a sua crueza. Nada tem que ver com a vista da Nossa Senhora do Monte ou do Hotel do Chiado. Ontem, enquanto jantava no Ibo, uma americana com ar de dondoca dizia isso mesmo, que não era o typical or tourist, era algo mais real.

Mesmo ao lado, uma série de armazens vão servindo de abrigo às ratazanas e os becos, depois de encerradas as casas de banho públicas do terminal, usados com esse propósito. Pelo que consta, a grande parte dos edifícios ainda pertence ao Porto de Lisboa. O seu estado de degradação não é compatível com a necessidade que a cidade tem de se virar para o rio, décadas depois de lhe ter virado as costas.

O Cais do Sodré é uma zona de excelência que pode propiciar esse encontro entre as pessoas e o rio, mais próximo dessa colina movimentada que é a do Chiado. Não tem necessariamente de se tornar numa zona de diversão nocturna. Pode ser aproveitada de várias formas e com um target não necessariamente turístico. O conforto dos cidadãos e o seu usofruto da cidade é o maior cartão de visita que uma cidade pode ter. A qualidade de vida das pequenas coisas é uma porta para o desenvolvimento.

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